tag:blogger.com,1999:blog-53733636860077870892024-03-04T23:54:18.643-08:00BlogOuraWilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.comBlogger54125tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-33109250584785749492023-07-26T12:32:00.000-07:002023-07-26T12:32:16.564-07:002537 - Shitstorming<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQeyOUC_LbCK0oSWV0K3fOPhfeX63vI5ePcpqRi0EaX0Lz5hqvDt-q_6aAIV3eD6H4aYk9CRcD4EGbHCBZsxmHgP1Tc_2DTr762gEP_BqRojODASmD0YaHFc5tsaqzhZO0C36YEDZ4UEfExWeIkvyLqyqyLw8Tloht-xiswVuhdPMsMqF0lrJ5G1UQNOC/s640/redneck-computer-chair.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQeyOUC_LbCK0oSWV0K3fOPhfeX63vI5ePcpqRi0EaX0Lz5hqvDt-q_6aAIV3eD6H4aYk9CRcD4EGbHCBZsxmHgP1Tc_2DTr762gEP_BqRojODASmD0YaHFc5tsaqzhZO0C36YEDZ4UEfExWeIkvyLqyqyLw8Tloht-xiswVuhdPMsMqF0lrJ5G1UQNOC/s320/redneck-computer-chair.jpg" width="320" /></a></div><br />– Wilson, podemos conversar?<p></p><p>– Claro!</p><p>– Vou te mandar o link.</p><p>Abre o Google Meet.</p><p>– E aí? Tudo bem? Como estão as coisas?</p><p>– Tudo certinho!</p><p>– Então Wilson, queria só tirar umas dúvidas sobre as suas horas.</p><p>– Minhas horas?</p><p>– É. Eu vi aqui que você tem horas alocadas no banheiro da agência, mas hoje é dia do seu Home Office.</p><p>– Deixa eu ver. Ah sim! Eu estava cagando.</p><p>– Ah! Então vou pedir pra você alterar. Tem uma tarefa no gerenciador de horas que é “2534 – Evacuação Banheiro de Casa 2º Andar”. Sua casa é um sobrado?</p><p>– Sim! Mas eu caguei no lavabo.</p><p>– Ah! Então vamos alocar as horas no “2533 - Evacuação Banheiro do Térreo”.</p><p>– Foi uma dor de barriga de movimentação peristáltica normal ou você tomou café?</p><p>– Acabei de passar um café!</p><p>– De cápsula ou coador?</p><p>– Coador. Cápsula gera muito lixo no meio ambiente.</p><p>– Ah. Então você lança as horas do café em “2645 - no coador é mais gostoso”.</p><p>– Ok! Deixa eu anotar…</p><p>– Por um acaso você não teve ideias no banheiro, não?</p><p>– Hmm… Eu pensei um pouco no job sim.</p><p>– Aaaah! Então apaga tudo que falei. Aloca suas horas no “2537 - Shitstorming”.</p>Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-73359873586034709302019-05-23T07:10:00.000-07:002019-05-23T07:12:33.964-07:00A/C Aisha<b>Talita Aisha Oura. 大浦タリータ愛写</b><br />
<b><br /></b>
Nem sei se, quando você tiver idade para ler e compreender este texto, o Blogspot ainda vai existir. De qualquer maneira, escrevo apenas para expressar o que estou vivendo agora.<br />
<br />
Quando eu e a sua mãe fizemos o vídeo de 上を向いて歩こう, só sabíamos que o nosso bebê tinha 70% de chances de ser menina.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/UCVqBNLtz9A/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/UCVqBNLtz9A?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />
<br />
Quando o ultrassom deu certeza do sexo, seu nome japonês surgiu primeiro: 愛写(あいしゃ - Aisha).<br />
Tiramos ele da música 愛車リマインド da banda japonesa Jill-Decoy Association. Trocamos os kanjis para dar outro significado e mantivemos a pronúncia. Até porque Aisha é o nome da filha do Stevie Wonder que ele canta em Isn't she lovely.<br />
<br />
“Talita” veio depois. Um pouco por causa da Tatá Werneck, um pouco também porque gostamos do nome.<br />
<br />
Um querido primo nosso disse uma vez que “nós só aprendemos a ser filhos, quando viramos pais.”.<br />
<br />
Faz muito sentido. Passamos a entender que, com os erros e acertos, nossos pais deram o melhor para nos criar.<br />
<br />
Você é nossa primeira filha. Então, estamos com alguns medos. Normal, né? Ainda mais que todos dizem "a culpa é sempre dos pais". O que ajuda é focar no presente e curtir cada momento do seu desenvolvimento.<br />
<br />
Eu e sua mãe, logo no começo do namoro, combinamos que não poderíamos tomar decisões por medo e que “viver com medo é viver pela metade”. Não sabemos de quem é essa frase.<br />
<br />
Por um bom período do nosso casamento, não queríamos ter filhos. Só que um dia, percebemos que não ter filhos era uma resolução criada pelo medo.<br />
<br />
Medo de que nossas viagens não fossem mais como antes.<br />
<br />
Medo de não poder mais sair, tocar, curtir a noite.<br />
<br />
Medo de não poder mais tomar umas cervejas e jogar videogame junto de nossos amigos.<br />
<br />
Medo de perder a vida que tínhamos.<br />
<br />
Aos poucos, alguns de nossos amigos tornaram-se pais. Eu e sua mãe fazíamos parte de três casais da turma que sobraram com a dúvida da paternidade.<br />
<br />
Podemos dizer que quatro fatores foram cruciais para chamarmos você a este mundo.<br />
<br />
<br />
<b>1 - Este diálogo com um dos casais que ainda não eram pais.</b><br />
<br />
— Se parar e pensar, a decisão mais racional é não ter filhos. — disse ela.<br />
<br />
— Na verdade, não. Se você for racional, você tem filhos. — respondeu ele.<br />
Repetindo o que falei acima, concluímos que não ter filhos seria uma decisão tomada pelo medo e não pela razão.<br />
<br />
Ah! Eles ficaram grávidos antes da gente! Seu amigo Lucas nasceu meses antes de você.<br />
<br />
<b><br /></b>
<b>2 - Encontro Feminino da Mahikari.</b><br />
<br />
Eu não fui a esse evento. Sua mãe pode explicar melhor a inspiração que rolou por lá.<br />
<br />
<b><br /></b>
<b>3 - Sua prima Amélie.</b><br />
<br />
Eu e sua mãe nunca vimos a paternidade como algo mágico, meloso, romântico.<br />
<br />
Nunca nos imaginamos correndo na praia em câmera lenta com você, sorrindo e saltitando nas nuvens com um braço sujo de merda que vazou da sua fralda dizendo: “Ser pai (mãe) é o sonho da minha vida!”. Tudo isso com corações vermelhos brotando da pele e flutuando ao redor das nossas cabeças.<br />
<br />
Quando sua prima nasceu, 3 anos antes de você, vimos que a criança vem para integrar um grupo.<br />
<br />
O grupo se adapta ao bebê e o bebê se adapta ao grupo. É até bom para aprender que o mundo não gira ao redor do nosso umbigo.<br />
<br />
Para nós, isso que corresponde a uma família. Ou, como somos fãs de cachorros, a uma matilha.<br />
<br />
<b><br /></b>
<b>4 – O-Shogatsu</b><br />
<br />
A família da sua mãe sempre foi grande. Leva um tempo para decorar todos os nomes, mas os encontros de Ano-Novo com todo mundo junto são sempre muito bons.<br />
<br />
Sua avó materna é a caçula de 10 irmãos. A mamãe tem 40 primos de primeiro grau.<br />
<br />
Sempre comentamos o quanto esses encontros são divertidos. Qualquer festa de aniversário vira um evento grande.<br />
<br />
Só que, geração após geração, a quantidade de filhos diminui em cada núcleo familiar.<br />
<br />
Hoje fala-se até que o conceito de primo será raro ou vai deixar de existir, porque a maioria dos casais tem apenas um filho.<br />
<br />
— Ter família grande é gostoso, né?<br />
<br />
— É!<br />
<br />
— E aí, vocês vão ter filhos?<br />
<br />
— Não!<br />
<br />
Algo não bate nessa conta.<br />
<br />
Pouco a pouco, nossa rotina mudou e não foi por sua causa. Paramos de tocar à noite, passamos a gravar nossas músicas em casa e espontaneamente tudo se preparou para a sua chegada.<br />
<br />
Até o momento deste texto, trabalho em home-office. Tomara que isso seja realmente o futuro das relações de trabalho.<br />
<br />
Toda essa introdução só para dizer o que me motivou a escrever esta “carta”. Talvez, um complemento ao nosso vídeo de 上を向いて歩こう.<br />
<br />
Sabe a frase "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"? Estava pensando: ela não é imperativa, e sim um bom indicativo das relações humanas.<br />
<br />
O que quero dizer é: se não somos capazes de ter amor próprio, não conseguiremos amar qualquer outra pessoa.<br />
<br />
Novamente o Caminho do Meio: é possível ser generosa sem esquecer o próprio bem-estar. Pensar em si mesma sem ser egoísta.<br />
<br />
Até as companhias aéreas sabem disso: “Em caso de descompressão, coloque a máscara primeiro em você, depois na pessoa ao seu lado!”.<br />
<br />
Autoestima não é só cuidar da beleza.<br />
<br />
Se tudo der certo, conquistarei a faixa preta em Aikido quando você tiver uns 4 meses de idade. Mas não quero ser aquele pai clichê que vai fazer cara de mau para receber seu namorado. Estarei sempre pronto para te proteger, é claro, mas na minha cabeça, você também pode se tornar faixa preta de alguma arte marcial e ser bem capaz de se defender sozinha. Ainda mais se tiver a força da sua mãe (depois eu conto a história de quando ela quebrou o meu nariz com uma cabeçada no meio de um abraço).<br />
<br />
Mas é isso. Quero muito que você seja feliz. Preocupação é realmente “ocupar-se antes da hora”.<br />
<br />
Vai-se o desabafo, volto a curtir o momento. Vou colocar uma música porque sei que você sempre chuta e se mexe quando eu e sua mãe cantamos.<br />
<br />
Espero que sempre confie na gente.<br />
<br />
Beijo.<br />
<br />
Papai.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-36820043080271452632019-02-06T08:00:00.000-08:002019-02-15T18:19:10.352-08:00Two and a half social conventionsLá se foram alguns anos de casado e tem uma coisa que eu ainda não entendo: algumas piadas e reclamações sobre a vida pós matrimônio.<br>
<br>
Felizmente, encontrei amigos casados que também pensam como eu. Assim, não me sinto tão alien.<br>
<br>
A conclusão mais plausível que cheguei foi a de que reclamar da vida de casado faz parte de uma convenção social. Algo para você parecer "normal" no seu círculo de amigos que se lamuriam dos mesmos motivos comuns tirados de uma rasa conversa de novela ou programa humorístico global.<br>
<br>
<b>"A diferença entre casamento e prisão é que na prisão se pode jogar futebol aos domingos."</b><br>
<b><br></b>
<b>"Faltando dois dias para o casamento, o noivo muito católico vai procurar o padre: </b><br>
<span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">—</span><b> Padre, eu vim aqui propor um negócio. Eu lhe trouxe mil reais, mas em troca eu quero que o senhor corte algumas coisinhas daquele discurso de casamento: '</b><b>Amar, honrar, ser fiel...'. </b><b>É só não falar essa parte! </b><br>
<b>O padre aceita o dinheiro, não fala nada e o noivo fica todo satisfeito. </b><br>
<b>Quando chega o dia do casamento, o padre olha bem para o noivo e diz: </b><br>
<span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">—</span><b> Promete viver apenas para ela, obedecer a cada uma de suas ordens, levar café na cama todos os dias e jurar perante Deus que nunca terá olhos para nenhuma outra mulher? </b><br>
<b>O noivo, completamente sem graça e sem saída, acaba concordando. Mais tarde, durante a festa, chama o padre num canto: </b><br>
<span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">—</span><b> Poxa, eu pensei que a gente tinha feito um acordo! </b><br>
<b>O padre lhe devolve os mil reais: </b><br>
<span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">—</span><b> Sinto muito, meu filho. Mas ela triplicou a sua oferta!"</b><br>
<br>
Acima, duas piadas que encontrei em uma pesquisa no Google, mas existe muita gente que realmente pensa como esses personagens. Aí vem a pergunta: <b>se essas pessoas sentem tanta falta da vida de solteiro, por que continuam casadas?</b><br>
<br>
Acho que não sinto falta da minha vida de solteiro porque continuo fazendo as mesmas coisas. Jogo videogame, tomo cervejas, assisto séries e futebol americano. Tudo em dupla.<br>
<br>
Não sinto falta do "começo do namoro, quando há borboletas no estômago e o fogo da paixão blablablablabla..."<br>
<br>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ASubUAwssFdSctOEesD3M158yPA8qg9GNDvq8ev_cZ1ooIbYGGuiRGC83fpbSouT2L80wr4SlL3JhABtgLGg75FoSJm8oBlneTvkqt2fIgV_nAEUAh5Htc1MFlzGkmE1ultyH_b3zHu-/s1600/giphy.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="134" data-original-width="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ASubUAwssFdSctOEesD3M158yPA8qg9GNDvq8ev_cZ1ooIbYGGuiRGC83fpbSouT2L80wr4SlL3JhABtgLGg75FoSJm8oBlneTvkqt2fIgV_nAEUAh5Htc1MFlzGkmE1ultyH_b3zHu-/s1600/giphy.gif"></a></div>
<br>
<br>
Parando para pensar, eu prefiro estar onde estou agora. No começo do namoro eu queria impressionar: matar as baratas, bancar o "alfa", vencer discussões...<br>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqdDWw6qWAL7pGwTfZxbrHCW1BSHxyL0luFgmc1ruzZnhyphenhyphenE7K506iHCVHaAxtUZeYc_1GrGCJcxCAtIZfuTVR3rPqRtUdIGShyNzn8gERMwrp7gJ7xL2xdS2WSOiuVIZRzpdycDaOtMmLW/s1600/red_ross.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="246" data-original-width="327" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqdDWw6qWAL7pGwTfZxbrHCW1BSHxyL0luFgmc1ruzZnhyphenhyphenE7K506iHCVHaAxtUZeYc_1GrGCJcxCAtIZfuTVR3rPqRtUdIGShyNzn8gERMwrp7gJ7xL2xdS2WSOiuVIZRzpdycDaOtMmLW/s320/red_ross.gif" width="320"></a></div>
<br>
Ficava tenso para que a pessoa não se decepcionasse comigo. Hoje, eu quero apenas cultivar e oferecer o meu melhor lado no relacionamento. Ao meu ver é completamente diferente. Quero ser sempre uma pessoa melhor do que eu era antes, aprender com minha parceira e ser feliz. Ser verdadeiro.<br>
<br>
Um amigo me disse: "você gosta da sua vida de casado porque ainda não tem filhos. Antes, minha mulher perguntava 'o que você quer comer? Hoje, ela não pergunta nada!'.<br>
<br>
Ué! Eu não casei com um mordomo.<br>
<img alt="Resultado de imagem para alfred butler" src="https://vignette.wikia.nocookie.net/jadensadventures/images/d/de/3567589-batman_tas_alfred.jpeg/revision/latest?cb=20140506160829"><br>
"Eu vos declaro marido e Alfred!".<br>
<br>
Toda essa introdução falando da minha luta contra convenções sociais só para dizer que esta cruzada vai ter um novo desafio.<br>
<br>
Os mesmos que sempre reclamam de seus casamento são os mesmos que reclamam da paternidade.<br>
<br>
A nova fase vem cheia de novos clichês:<br>
<br>
<b>"Uma piscina gelada em que todos os seus amigos estão lá dentro te chamando: </b><span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">—</span><b> Vem, pode pular que a água ta quentinha!"</b><br>
<div>
<br></div>
<div>
Se ainda não ficou claro: sim, vou ser pai. Minha matilha vai aumentar.</div>
<div>
<br></div>
<div>
Acho que só comecei a escrever este texto para me policiar e talvez assumir um compromisso mental comigo, minha família e o novo integrante.<br>
<br>
Longe de mim subestimar os desafios e dificuldades desta nova fase, mas desejo que eu nunca utilize a desculpa "não posso porque agora sou pai" em qualquer situação.<br>
<br>
Almejei tanto por disciplina e parece que agora vou realmente precisar dela. Para não me atrasar nos compromissos, viagens, encontros e claro, meus treinos.<br>
<br>
Quero dar o meu máximo para que meu filho ou filha não se sinta um peso na minha vida.<br>
<br>
Detesto a ideia de que um dia ele possa se sentir como no quadrinho abaixo:</div>
<div>
<br></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlljF2zOzwWZkk4UU9jDKaVBpKESrgG1rWFDwP5ETSV8ZpaDxFCbQwfVKbhzcxA6sxxDq1DOfW8D_aW84h9ammSXZlwN3ynrm27Aw9f0kUu-PFMqfKNDmV39XfEUKfW658ChBM7xvOUD5l/s1600/pais.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="489" data-original-width="500" height="312" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlljF2zOzwWZkk4UU9jDKaVBpKESrgG1rWFDwP5ETSV8ZpaDxFCbQwfVKbhzcxA6sxxDq1DOfW8D_aW84h9ammSXZlwN3ynrm27Aw9f0kUu-PFMqfKNDmV39XfEUKfW658ChBM7xvOUD5l/s320/pais.png" width="320"></a></div>
<br><span style="font-family: sans-serif;">- Meus sonhos foram despedaçados anos atrás.</span><div><span style="font-family: sans-serif;"><br></span></div><div><span style="font-family: sans-serif;">- Há quantos anos?</span></div><div><span style="font-family: sans-serif;"><br></span></div><div><span style="font-family: sans-serif;">- Quantos anos você tem?</span></div><div><span style="font-family: sans-serif;"><br></span></div><div><span style="font-family: sans-serif;">- ...</span></div><div><span style="font-family: sans-serif;"><br></span></div><div><span style="font-family: sans-serif;">Bom, é isso. Quero curtir cada etapa. Sabe aquela história que a viagem é mais inportante que o destino? Então...</span></div>Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-24590233615350486262018-09-11T17:04:00.000-07:002018-09-11T17:04:12.191-07:00Ikigai<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh5eMvYEVbZp_glanK4dx3VU6DERaZ_IbhzLo86i4XK48-g9kYjRWqiJUKv6aKeITNKyik_LTs_n2tu2DbrYDt5rNB6sTkWlfmO6fhEHMwNU6nDLD0hSqNv0faQkwO7_EurCrT4p4i7OfI/s1600/ikigai-1-638.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="359" data-original-width="638" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh5eMvYEVbZp_glanK4dx3VU6DERaZ_IbhzLo86i4XK48-g9kYjRWqiJUKv6aKeITNKyik_LTs_n2tu2DbrYDt5rNB6sTkWlfmO6fhEHMwNU6nDLD0hSqNv0faQkwO7_EurCrT4p4i7OfI/s320/ikigai-1-638.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Sei que é meio clichê, mas vou fazer uma segmentação bem idiota agora.<br />
<br />
Entrei numa jornada de autoconhecimento. Talvez por causa do meio dos 30 anos. Vai saber... Mas falando da minha vida profissional, estou como um adolescente punheteiro: em descoberta.<br />
<br />
Talvez por isso, meus dois últimos posts aqui tiveram esse teor "querido diário". Escrever sempre ajudou a sintetizar minhas ideias.<br />
<br />
Entre textos de <a href="http://blogoura.blogspot.com/2015/06/ate-nunca-mais.html" target="_blank">despedida</a> das agências de publicidade e duas reativações do meu CRP para voltar a atender na Psicologia clínica, uma coisa sempre esteve presente no meu cotidiano: Música.<br />
<br />
Um antigo colega de trabalho, hoje YouTuber e <i>digital influencer</i> disse que eu deveria trabalhar com música.<br />
<br />
Falou muitos anos atrás. Só hoje que isso passou a fazer sentido. Cheguei a montar um <a href="http://bandsrevival.blogspot.com/" target="_blank">blog de bandas</a> com um amigo, mas a chama da empolgação se apagou pouco a pouco, e hoje ele está abandonado.<br />
<br />
A inveja sempre foi pintada como algo ruim, mas ela também pode ser vista como algo motivador. Enquanto percorria meus caminhos malucos, alguns amigos sempre souberam o que queriam. Hoje, vivem, batalham e seguem em seus trabalhos como músicos profissionais. Também me inspiram e ensinam muito.<br />
<br />
Obrigado por isso!<br />
<br />
Eu estava cansado.<br />
<br />
Cansado de tocar em bares vazios, carregar equipamento, montar o som, de me estressar com o trânsito e o horário marcado, voltar de madrugada para casa. Mais ainda de ganhar pouco e ficar o tempo todo pesando "vale a pena isso tudo por aplausos?".<br />
<br />
Observando grandes bandas da noite paulistana, pensava também: "será que estou disposto a passar por tudo o que eles passaram para chegar onde eles estão?".<br />
<br />
Em respeito a todos eles, sempre dei o meu máximo para ser o melhor profissional a cada apresentação.<br />
<br />
Não me entendam mal. Estar num palco é uma das melhores sensações que existem. O contato com o público, tocar o estilo de música que você mais gosta de ouvir e estudar... É uma energia diferente. Uma sensação de "I fucking love my job" que poucos no mundo têm o privilégio de sentir.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Qzfm16nurwuEeLoFGt7dwYGwDN1HLOppHJtaVjBXr3k96mQMMxc-3PZwwZbn7EJXoz1CkmEVEhgN15jbVK4m5tzNgH7vTR2EIZhnpP9Q6I2v1W_IhO9ckpxpgwda66qS34vm5XbcH3J6/s1600/oteil_job.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="250" data-original-width="444" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Qzfm16nurwuEeLoFGt7dwYGwDN1HLOppHJtaVjBXr3k96mQMMxc-3PZwwZbn7EJXoz1CkmEVEhgN15jbVK4m5tzNgH7vTR2EIZhnpP9Q6I2v1W_IhO9ckpxpgwda66qS34vm5XbcH3J6/s320/oteil_job.gif" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
"I fucking love my job!"</div>
<br />
Talvez por isso, as pessoas não-musicistas têm em suas cabeças o estigma: "você é músico mas trabalha com o que?". Sinceramente, não sei dizer qual outra profissão oferece este prazer indescritível no ato e momento de estar trabalhando.<br />
<br />
Aquelas 2 horas de show, no palco em contato com a plateia, a sensação é maravilhosa. Cura dor de cabeça, mau humor, tristeza. Tudo!<br />
<br />
Mas calma lá. Esse prazer todo não é pagamento. Músicos têm contas para pagar. Muitas. Não têm plano de saúde entre outros benefícios que um funcionário tem, só para citar um exemplo.<br />
<br />
Colocando tudo no liquidificador, veio a pergunta: como continuar tocando sem passar por todos esses perrengues e desventuras que me incomodavam tanto?<br />
<br />
A resposta veio da nostalgia. A primeira banda que tive com minha esposa era um trio. Em um reencontro com o pianista, percebemos que estávamos todos no mesmo barco. Saudades de fazer música, mas de saco cheio dos bares.<br />
<br />
Passamos a gravar em home studio, editar clipes e criamos nosso canal: <a href="https://www.youtube.com/channel/UCoVjKl0dPNzNW821Ak6dCqw" target="_blank">Careless Home Studio</a>.<br />
<br />
Faz pouco mais de um ano e continuamos empolgados. Entre versões, covers e composições próprias, já temos uma frequência de publicações e o projeto continua. Aproveitando, inscrevam-se lá e curtam nossos vídeos.<br />
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<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/BDGu4PAD7xM" width="560"></iframe><br />
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Aqui que entra o "IKIGAI". Acho que até esperei a gravação do vídeo acima para falar sobre o assunto. Música se enquadra nas quatro categorias da imagem no começo deste post.<br />
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<b>What you love: </b>sim, sou apaixonado por música, guitarras, baixos, baterias, teclas, blues, rock, grooves e afins.<br />
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<b>What the world needs</b>: acredito do fundo das minhas tripas que o mundo está precisando de música. Mensagens fortíssimas podem ser passadas através de sons e canções. Tem muita gente legal mostrando seus trabalhos. Temos que parar de reclamar que esse ou aquele artista comercial é ruim, tal estilo é um lixo e etc. Em vez de reclamar que "Fulano é uma bosta", que tal prestigiar uma caralhada de artistas legais que estão tocando por aí?<br />
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<b>What you can be paid for</b>: bom... Essa é parte difícil. Mas estou correndo atrás de conseguir pagar minhas contas fazendo o que amo.<br />
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<b>What you are good at</b>: mesmo medíocre, continuo estudando guitarra sempre com aquele pensamento de que é menos do que deveria. Felizmente, tenho a impressão de que as pessoas gostam do que ofereço musicalmente.<br />
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Não vou mentir. Além de vomitar o que passava na minha cabeça, também quis promover o nosso canal. Espero que gostem!Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-75687962497794022822018-08-25T17:08:00.001-07:002018-08-25T17:08:39.087-07:00Significados<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgskZ16BJ0xMJpqBSOEdxItd-_DxbdicvSYxjTJyPQ-iN0LRNMkm0n9q_aofnMW2Gy1EPmHxY-XP-A96Zxbbb3EvsQA7a1fi8zy4LjicVfj4iQBek_2E2eIur5oqDCB-8DHDMWMFZsDMdoh/s1600/ikei-sept-hr-2_orig.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="624" data-original-width="1100" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgskZ16BJ0xMJpqBSOEdxItd-_DxbdicvSYxjTJyPQ-iN0LRNMkm0n9q_aofnMW2Gy1EPmHxY-XP-A96Zxbbb3EvsQA7a1fi8zy4LjicVfj4iQBek_2E2eIur5oqDCB-8DHDMWMFZsDMdoh/s320/ikei-sept-hr-2_orig.jpg" width="320" /></a></div>
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Ninguém na família gostava de tatuagens. Sei lá por que eu fui fazer a minha primeira.<br />
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Lembro-me que um grande amigo tinha feito a dele. Não sei se foi isso que me empolgou.<br />
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Só sei que fiquei um dia inteiro, alternando entre minhas tarefas na agência e conversas com uma amiga, que mais tarde virou minha esposa, em uma divertida pesquisa de kanjis e seus significados.<br />
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Depois de muito estudar, chegamos aos kanjis escolhidos. Imaginava que minhas tatuagens precisavam de significado. Nada contra quem se tatua por outros motivos, mas o significado é a minha única motivação.<br />
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Por fim, a primeira foi <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">愛</span><span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">の</span><span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">子 </span>(<i>ainoko</i>), que tatuei em meu antebraço esquerdo. Simples. O significado literal é "filho do amor". A explicação que encontramos foi a de que os mestiços eram filhos de casais que não tiveram o casamento arranjado no Japão (<i>Miai</i>). A palavra era por si só pejorativa e foi substituída atualmente por <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">ハーフ </span>(<i>Hafu</i>), um derivado de "<i>half</i>".<br />
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Tinha achado bem legal a ideia até mesmo por ser um termo pejorativo, fora que "filho do amor" é muito mais interessante que "<i>half breed</i>".<br />
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Tatuei e a vida seguiu em frente!<br />
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Anos mais tarde, veio outra ideia. Tatuar um <i>pakuá </i>chinês e um cachorro tribal. Uma amiga do trabalho disse que tribais eram batidos e sugeriu que eu fizesse um cachorro de cordel, em xilogravura. Pesquisei referências na net e um amigo ilustrador fez o desenho. Daí, fui direto para o estúdio de tatuagem.<br />
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O significado? Cão é meu signo no horóscopo chinês. Fora que são criaturas adoráveis que me ensinam muita coisa. A mistura entre o cordel e o <i>pakuá </i>chinês também trariam essa minha genética "viralática" para a tatuagem.<br />
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O desenho ficou no centro das minhas costas, entre as escápulas e pouco abaixo do pescoço.<br />
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Sosseguei por uns bons 5 anos. Apesar disso, tinha em mente que gostaria de fazer mais uma. Foram negociações tranquilas, mas a esposa dizia não querer namorar um "gibi". Ou um membro da <i>Yakuza</i>. Estabeleci para mim mesmo que na próxima oportunidade, seria minha última tatuagem.<br />
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A ocasião surgiu no começo de 2018. Um amigo que é um excelente ilustrador começou a estudar tatuagens e precisava de "cobaias". Aceitei o convite pela qualidade do trabalho dele e também por conhecer seu altíssimo nível de disciplina e dedicação. Tinha confiança de que, mesmo sendo um iniciante no ramo, a tatuagem seria muito bem feita.<br />
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Esta última é a que tem mais significados agregados em sua criação.<br />
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São dois leões de Okinawa, ou <i>Shisa</i>, ou ainda <i>Fu-Dog</i> e <i>Komainu</i>. Foram várias as maneiras de pesquisar no Google e encontrar referências para o desenho.<br />
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As estátuas são comumente vistas na entrada de templos no Japão. São guardiões protetores. Uma das lendas ou histórias deles é possível ler <a href="http://tesouros-okinawa.blogspot.com.br/2011/01/shisa-os-leoes-de-okinawa.html" target="_blank">aqui</a>.<br />
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A ideia seria fazer uma estátua no braço esquerdo com o kanji <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">夢 </span>(<i>yume) </i>e no direito, outra com o kanji <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">今</span> (<i>ima).</i><br />
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Resumidamente, o lado esquerdo corresponde ao nosso lado espiritual. Então, a estátua desse braço teria o kanji <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">夢 </span>que significa "sonho". Isso porque eu gosto muito da história do Monge Takuan Soho, que instantes antes de morrer, pediu um papel com pincel e escreveu o ideograma.<br />
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Mesmo um conceituado monge budista como ele precisava do lembrete de que a nossa vida aqui é só um sonho. Assim, ele não se desesperaria com a proximidade da morte, um marcante momento em que nós "acordamos" desse sonho.<br />
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No braço direito, que representa o lado racional, estaria a outra estátua e o kanji <span style="background-color: white; color: #545454; font-family: "arial" , sans-serif; font-size: x-small;">今 </span>que significa "agora". Um lembrete para a minha racionalidade de que o passado não existe mais, é apenas uma lição e nunca pode ser uma tortura.<br />
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Uma marca para me fazer focar no presente, trazer discernimento para o que é necessário no aqui e agora, além de ser um símbolo para me ajudar com a ansiedade pelo futuro.<br />
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O tatuador é meu <i>senpai </i>no Aikido e trouxe, empolgado, ainda mais significados para a tatuagem.<br />
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Conversávamos muito sobre marcialidade.<br />
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O Aikido é conhecido como a arte da paz, harmonia e cooperação. Mas isso não quer dizer que não é uma arte marcial. Deve-se ter sempre em mente que seus movimentos podem causar muitos danos. Quem sou eu para me aprofundar e escrever sobre o assunto aqui, mas o ponto é que sou visto como muito "bonzinho" para fazer uma arte marcial. Tenho aflição de movimentos que podem quebrar dedos, cotovelos ou outras articulações.<br />
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Em paralelo a isso tudo, conversamos que as estátuas dos guardiões representam bem essa marcialidade: elas não são agressivas ou ferozes. Elas só ficam ali e aguardam. Apenas se for necessário vão utilizar suas forças para defender o templo.<br />
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Cheguei a pensar que as tatuagens são minhas armaduras, mas acho que significam mais: são meus amuletos.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-65221342848422869582017-07-30T11:10:00.000-07:002017-07-30T17:05:44.190-07:00Por que a gratidão mijou na cozinha?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl6DLos7w3yKcCzWfXQsWXC8b8KPvWV_IQTPBt8zChbcGzP7_IqpEbz7ePmAZ-7agGzQMKt36uHXSytvRdSTdYznLyqueu5fPlfx1IL-xp41H8iC3sUdd50oDvE6RsWXnD3RfkcT6jGFaz/s1600/handstandpee.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="433" data-original-width="650" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl6DLos7w3yKcCzWfXQsWXC8b8KPvWV_IQTPBt8zChbcGzP7_IqpEbz7ePmAZ-7agGzQMKt36uHXSytvRdSTdYznLyqueu5fPlfx1IL-xp41H8iC3sUdd50oDvE6RsWXnD3RfkcT6jGFaz/s320/handstandpee.jpg" width="320"></a></div>
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Quando o Barry morreu, o Marvin se sentiu muito sozinho. Não teve jeito: adotamos a Susan em uma feirinha realizada pela <a href="https://www.facebook.com/appapetsp/" target="_blank">ONG APPA</a>. Sim, estou falando de cães.<br>
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Barry era um cachorro muito inteligente. Personalidade praticamente humana. Ele foi uma pessoa peluda de 4 patas.<br>
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Marvin é um cão muito alegre. Bom humor em 100% do dia. Corre, brinca, pula e fica com o rabo abanando o tempo todo.<br>
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Já a Susan é um pouco mais calma, porém tem uma característica que nos chama muito a atenção.<br>
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Quando ela termina de comer, ou no momento em que a libero da guia do passeio, ela para ao meu lado, senta e fica olhando. A sensação que dá é a de que ela está agradecendo: seja por ter sido adotada, pela refeição e até mesmo pela caminhada.<br>
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Sendo assim, Marvin representa a alegria e a Susan passou a ser associada à gratidão.<br>
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No geral, ambos são muito obedientes.<br>
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O problema é que de vez em quando, a Susan faz xixi na cozinha.<br>
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Nunca soube a causa, motivo, razão ou circunstância para ela fazer isso.<br>
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Primeiro deduzimos que era por causa do frio: ela percebe o quintal mais gelado do que dentro da casa e desencana de ir até lá. A teoria caiu por terra quando o problema se repetiu no verão.<br>
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Depois, achamos que era porque o quintal estava sujo, com cocô do Marvin. Teoria descartada: um dia, a cozinha estava mijada mesmo com tudo limpinho lá fora.<br>
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Nunca descobrimos o que realmente acontece, até que de repente me deu um estalo: <b>por que a gratidão mijou na cozinha?</b><br>
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Quando penso nessa pergunta, vem um monte de coisas na cabeça: todas as vezes que reclamei do trânsito, trabalho, vizinhos, conexão da internet, fome, preguiça, sono, frio e etc.<br>
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As filosofias orientais em geral valorizam muito o sentimento de gratidão, e uma reclamação é um sinal de que não estamos satisfeitos.<br>
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Porém, é uma questão de ponto de vista. Se estou preso no trânsito, é um sinal que tive condições de comprar um carro. Condições que vieram do meu trabalho, que também me ajuda a pagar as outras contas, financiar minhas viagens e cervejas.<br>
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Se o vizinho é chato e há conexão de internet, significa que tive condições de viver em uma casa. Por mais clichê que soe, é um privilégio que não existe para muita gente no mundo.<br>
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Já fiquei puto porque meu almoço atrasou umas horas. Depois de comer, parei para pensar: isso não é nada. Um monte de gente ainda morre de fome. Ficar de mau humor por conta disso é um puro melindre. Frescura mesmo. Tem uma padaria a cada esquina em São Paulo onde posso comprar um bolovo que seja.<br>
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Mas sem sofrência.<br>
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É uma perda de tempo sofrer pelo que não se pode mudar. Com pé no chão é melhor pensar: "está engarrafado? Ouça a música!", "Internet está lenta? Leia um livro!" e por aí vai.<br>
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Não há como comprovar a relação. Não reparei com atenção se quando estou com os pensamentos mais gratos, a Susan deixa de mijar na cozinha.<br>
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O importante é o resultado. Essa reflexão faz com que eu me policie para ter pensamentos mais produtivos e positivos. Porque entendo que a reclamação só atrapalha e deixa ansioso.<br>
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Obrigado ou ありがとうございます!Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-63476836739793172442016-02-29T07:30:00.001-08:002016-02-29T07:33:45.588-08:00Move on<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXKOHKHppwvFar3oWj67jw9EYeMZ4L9uid5gNZMNKf-i3yF55fS-iQbGmt0j0PsTNRipFezPmS3SCMoN8ZU7_FqxGPconhsUh6Lw6WRhS6O83aTjX7QSEnN2pDmUGcXGD3e_u9JpDytEE/s1600/moveon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXKOHKHppwvFar3oWj67jw9EYeMZ4L9uid5gNZMNKf-i3yF55fS-iQbGmt0j0PsTNRipFezPmS3SCMoN8ZU7_FqxGPconhsUh6Lw6WRhS6O83aTjX7QSEnN2pDmUGcXGD3e_u9JpDytEE/s320/moveon.jpg" width="320" /></a></div>
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É muito difícil desapegar do passado.<br />
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Não sei se é defeito ou qualidade, mas às vezes, as boas lembranças vêm à cabeça e fazem até você se esquecer das ruins.<br />
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Aí, você se pergunta: por que não vivo mais isso? Por que não tenho mais isso na minha vida?<br />
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Se fosse fácil pensar com a razão o tempo todo, não existiria meditação. Se todos tivessem o pensamento claro, não existiria budismo.<br />
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Quando se respira fundo, dá para concluir: há motivos para não estarmos juntos novamente. Há motivos para que tudo tenha terminado.<br />
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Aí vem a fase de imaginar. E se pudesse reviver tudo aquilo nem que seja só por alguns instantes. Sem compromisso. Apenas para ter o gostinho.<br />
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Pura ilusão. Ninguém quer reviver bons momentos só por pouco tempo. O desejo é que tudo aquilo esteja presente na vida. É tolice negar. Quer ser feliz exatamente como na época, só que, exatamente como na época, tudo acaba e exatamente do mesmo jeito. Exatamente com o mesmo sofrimento.<br />
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Enquanto a nostalgia vai e volta, com diferentes intensidades, surge algo novo. A esperança se renova. Novos momentos felizes surgem. Marcam. Criam novas impressões e sensações inéditas na vida.<br />
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A felicidade inicia sua estadia. Não se sabe por quanto tempo.<br />
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Encontrar um bolo de cenoura trufado e bem recheado realmente me fez superar o vazio deixado por aquelas trufas de Nutella.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-43732291356700644112015-09-23T08:04:00.001-07:002015-09-23T08:06:50.250-07:00Sem frio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcgnwx_kwHhkaN2zPdCo2pgcc1EAIbJFX06z70gw7Pl6LoWCYzWqkXuE0Re03h42dPsXNFqfEHUlaLPE5T4Kua2y2LxfLyYSAweggetYxvh4z-_O4pqE1z7VCWYDsemYCxUNaCrsEVYfta/s1600/neve+%252859%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcgnwx_kwHhkaN2zPdCo2pgcc1EAIbJFX06z70gw7Pl6LoWCYzWqkXuE0Re03h42dPsXNFqfEHUlaLPE5T4Kua2y2LxfLyYSAweggetYxvh4z-_O4pqE1z7VCWYDsemYCxUNaCrsEVYfta/s320/neve+%252859%2529.jpg" width="320" /></a></div>
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Era inverno. Isso atrapalhou também.<br />
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No meio de julho em São Paulo, Dirceu acordou e não sentiu tanto frio. Era aquele clima ideal que agrada calorentos e friorentos. Temperatura em torno dos 16 graus, sol e um pouco de vento. Paulistanos confusos saíam nas ruas alguns com casaco, outros sem.<br />
<br />
Porém, estava nevando. Isso que era estranho.<br />
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Dirceu nunca tinha visto aquilo em São Paulo. Os pontinhos esbranquiçados caíam sem parar. Era algo que poderia dividir opiniões. Não parecia ser algo macio como a neve do Chile, tampouco lembravam cristais de gelo do Japão.<br />
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Na janela, viu que os carros trafegavam sem escorregar pela avenida.<br />
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Curioso, ligou no Bom Dia São Paulo para ver se algo foi mencionado. Nada! Crimes, engarrafamento nas marginais, a rodada do futebol...<br />
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Estaria alucinando?<br />
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Nem parecia que Dirceu estava tão intrigado. Seguiu com sua rotina da manhã com todos os seus movimentos automáticos.<br />
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Dourou um pão de forma com manteiga na frigideira, passou cream cheese depois, jogou leite em pó direto no café, escovou os dentes, vestiu seu terno e saiu de casa.<br />
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A essa altura, nem prestava mais atenção na neve que continuava caindo.<br />
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Já no seu carro, a minúscula nevasca foi foco. Dirigiu com cuidado redobrado e pouco abaixo da velocidade máxima das vias. Isso irritou um pouco os outros motoristas.<br />
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Dirceu recebeu buzinadas, foi ultrapassado diversas vezes. Todos os xingavam. Ele ficou constrangido e acanhado, mas manteve a calma. Racionalmente pensou: "minha segurança em primeiro lugar.".<br />
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Acabou preso em um engarrafamento. Em outros dias essa situação seria um incômodo, mas como estava com medo de perder o controle do carro, ficou até feliz.<br />
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Deduziu que o acidente que estava atrapalhando o trânsito era por causa de um desses motoristas imprudentes e até inexperientes para dirigir na neve.<br />
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Andando a uns 15 km/h, o shuffle de seu iPod começou a tocar "N.I.B" do Black Sabbath. Dirceu dançou de leve dentro do carro, mas quando olhou para a direita, viu que a janela estava meio aberta e que tinha um pouco de neve no banco dos passageiros.<br />
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— Merda! — gritou.<br />
<br />
Fechou a janela.<br />
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Quando passou pelo acidente, quase como mágica, o trânsito passou a fluir normalmente. Um motoqueiro tinha caído. O SAMU já o tinha colocado numa maca e eles entravam com cuidado na ambulância.<br />
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Dirceu sentiu mais segurança para prosseguir com a velocidade que costumava andar, e uns 10 minutos depois chegou ao trabalho.<br />
<br />
Lá pelas 9 horas, aquele sol de inverno começava a esquentar os pontos sem sombra do caminho entre o estacionamento e o prédio da empresa.<br />
<br />
Durante a caminhada, a neve não deu trégua e parecia cair cada vez mais. Dirceu estranhou. Estava quase suando. Será que tinha algo errado com ele? Sempre fora meio friorento. Apesar do sol, uma nevasca dessas deveria afetar um pouco seu corpo.<br />
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Pensou que estava muito agitado pela aquela sensação de alerta constante. Estava tenso e preocupado enquanto dirigia. Ficou um pouco mais tranquilo.<br />
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Bateu o ponto e subiu as escadas. Olhou por uma janela e viu a neve continuar a cair.<br />
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Foi direto para o café. Ia fazer um chá de camomila para tentar se acalmar.<br />
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Lá, um colega que bebia um capuccino observou Dirceu e perguntou:<br />
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— Está tudo bem? O que você tem?<br />
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Dirceu respondeu:<br />
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— Nada. Só estou achando estranho que não sinto frio! Alguma coisa está errada.<br />
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Seu colega o olhou bem no rosto e respondeu:<br />
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— Cara, fica tranquilo. Vai ali no banheiro, relaxa e lava o rosto. Isso ajuda.<br />
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Dirceu, concordou e assentiu com a cabeça.<br />
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Foi até o banheiro e viu que seu rosto tinha vários pontos brancos espalhados.<br />
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Não era neve. Dirceu tinha caspa nas sobrancelhas.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-43091565171020148522015-08-13T11:21:00.000-07:002015-08-13T17:51:08.386-07:00Não imagine que te quero mal...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLxWRS74Xsby06CUYm4A1683FQxRvTVD5f8XcGptGAlrLoB6oOegRiUA5PwwiYsED802rsi6vsoFzrgo7I7YwbyzwGylQdxF7lNQDUwvWveQcJBFWu5nMQrJIOFupPRK70uoh0LGhHSPd4/s1600/zen.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLxWRS74Xsby06CUYm4A1683FQxRvTVD5f8XcGptGAlrLoB6oOegRiUA5PwwiYsED802rsi6vsoFzrgo7I7YwbyzwGylQdxF7lNQDUwvWveQcJBFWu5nMQrJIOFupPRK70uoh0LGhHSPd4/s320/zen.jpg" width="320" /></a></div>
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<br />
— Você anda muito "zen" ultimamente. Está me assustando.<br />
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— Hein? Eu? Por quê?<br />
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— Sei lá! Começou com aquela história que rancor dá câncer. Que é um veneno que você toma esperando que o outro morra.<br />
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— E daí?<br />
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— Você mesmo dizia que pessoas não mudam! Igual ao House!<br />
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— Ainda concordo com isso!<br />
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— Mas você mudou.<br />
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— Mudei nada! Continuo achando que pessoas não mudam. O que acontece é que às vezes, elas passam a enxergar outras coisas.<br />
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— Como assim?<br />
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— Por exemplo, eu continuo explosivo e fico muito puto em algumas situações, mas não são os mesmos motivos de antes que me tiram do sério.<br />
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— Me dá um exemplo.<br />
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— Antes, pessoas lerdas no trânsito me deixavam muito puto. Sabe? Quando elas andam devagarinho para depois estacionarem ou fazerem uma conversão à direita?<br />
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— Aargh! Isso irrita!<br />
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— Então. Antes de ficar nervoso, eu penso se a pessoa não está perdida, ou se é nova no volante, ou mesmo no tempo que eu realmente estou perdendo para chegar aonde preciso. Alguns minutos de atraso vão me prejudicar tanto assim? Mas por exemplo, quando o semáforo acabou de abrir e um babaca buzina em menos de 2 segundos me apressando, aí eu fico louco. Saio com o carro a 10 km\h só pra atrasar o bosta.<br />
<br />
— Entendi.<br />
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— De qualquer maneira, essa pessoa que buzinou pode estar com pressa. Vai saber se ela tem algum parente no hospital, ou está com diarreia... A gente nunca sabe. Pode até ser que ela seja só alguém frustrado e infeliz que não teve um bom dia. Por isso, queria me reeducar para não ficar tão nervoso nessas situações.<br />
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— Interessante...<br />
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— Estou me policiando para sempre ver o lado bom de tudo. Não focar no lado ruim.<br />
<br />
— Mesmo das pessoas?<br />
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— Sim.<br />
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— Mesmo daquele seu chefe que você odiava? Lembra? Aquele que reprovava seus trabalhos e mostrava a versão dele dizendo que tinha feito em 5 minutinhos?<br />
<br />
— Mesmo ele. Nesses 5 minutinhos ele fazia um trampo tão bosta quanto o que eu tinha feito.<br />
<br />
— Sinto um ódio aí...<br />
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— Olha, eu ficava muito puto. Ele podia ser um chefe escroto, mas era só uma deficiência dele em lidar com pessoas ou liderança. Sinceramente, é melhor que ele saia logo daquele cargo para ser feliz de verdade em outro lugar.<br />
<br />
— E aquele outro cara que combinava as coisas com você e mandava um e-mail ou escrevia no sistema o contrário para documentar e oficializar as coisas do jeito que ele queria?<br />
<br />
— Olha... Analisando bem, ele era um outro frustrado. Mal sabia escrever direito, estava estagnado na posição dele e, nas duas vezes que os chefes dele saíram, o cara tinha as esperanças de subir de cargo exterminadas. Nunca ganhava uma promoção. Sempre aparecia um chefe novo.<br />
<br />
— E aqueles vizinhos que começaram a implicar com o barulho no condomínio?<br />
<br />
— Bom. Esses aí me irritam mais porque estão mais perto de mim. São vizinhos. A gente tem que conviver na área comum. Esses eu ainda tenho dificuldade para ver o lado bom. O velho me serve de mau exemplo: só desejo envelhecer e não me tornar um ser insuportável igual a ele. Dos outros, não quero nada. Só que não me dirijam a palavra.<br />
<br />
— Aaah! Então você não gosta deles! Guarda rancor!<br />
<br />
— Pode até ser. Mas prefiro seguir a música do Lulu Santos: "não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais". Não vou brigar, atropelar, discutir, implicar, desejar mal ou pensar com ódio. Só não quero mais contato. Só isso. Quero que eles sejam felizes, porque gente feliz não enche o saco. É essa a conclusão: não procuro mais encheção de saco na minha vida.<br />
<br />
— Está se reeducando?<br />
<br />
— Isso mesmo.<br />
<br />
— Seguindo o seu pensamento, você não quer contato, mas se alguns deles estiver precisando de alguma coisa, você ajudaria?<br />
<br />
— Claro!<br />
<br />
— Ajudaria a carregar um peso? Consertar o carro? Emprestaria uma ferramenta?<br />
<br />
— Na verdade, eu mijaria na cara deles se ela estivesse pegando fogo.<br />
<br />
— ...<br />
<br />
— O que foi?Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-7209569019576112332015-07-14T17:26:00.000-07:002015-07-14T17:26:50.378-07:00Confissões de um vira-lata.Eu me considero um legítimo vira-lata.<br />
<br />
Metade japonês, metade brasileiro (que já tem várias bagagens étnicas misturadas), vivo em uma sopa genética de conflitos e admirações.<br />
<br />
Para começar, flerto muito com os tambores do Candomblé e toda a cultura dos Orixás, mas tenho vinte milhões de pés atrás com a mais remota ideia que envolva sacrifício de animais.<br />
<br />
Também sou apaixonado pelas filosofias orientais, principalmente as japonesas, bem como a cultura em geral e o estilo de vida.<br />
<br />
No meio dessa sopa genética, eu. Querendo ler sobre tudo e acabando com um conhecimento quase que superficial de cada assunto.<br />
<br />
Comecei a treinar Aikido e minha esposa quer fazer Kung-fu. Brinquei que ela está precisando dar uns socos e eu estou precisando encontrar um pouco de paz. Em parte é verdade.<br />
<br />
Após ler a trilogia Musashi do Eiji Yoshikawa, fiquei pensando nas lições que o livro passou. Um samurai estrategista que encontra uma iluminação justamente quando não se encontra em conflitos ou duelos.<br />
<br />
Até fico feliz de perceber quando estou no meio de alguma discussão inútil. O próximo objetivo é não entrar em nenhuma delas.<br />
<br />
De onde vem essa necessidade de impor ou simplesmente mostrar a opinião para os outros? De provar que o seu ponto de vista está correto? Quero apenas aceitar a tempo que as coisas que eu penso são apenas minhas e guardar para mim. Deixar os outros com suas opiniões, fazerem, lerem e ouvirem o que quiserem.<br />
<br />
O Aikido caiu como uma luva para esse aprendizado que busco. Conforme me disseram: não é competição, é cooperação. Posso estar errado e com uma opinião superficial na minha modesta faixa amarela, mas passei a admirar essa arte marcial porque o foco não é o conflito e sim o desenvolvimento pessoal.<br />
<br />
Admiro as filosofias orientais porque o processo de evolução e equilíbrio vai de dentro para fora. No autoconhecimento. Não com livros cheio de dogmas e metáforas por conveniência.<br />
<br />
No meio dos conflitos minha sopa genética, também fico assombrado com episódios como o <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Nanquim" target="_blank">Massacre de Nanquim</a>, as caças às baleias ou mesmo imagino as causas para a alta taxa de suicídios no Japão e vejo que nada é tão perfeito assim.<br />
<br />
Mas como a minha origem vira-lata sugere: a meta é o equilíbrio. Saber que nós só temos uma visão parcial de tudo e levar isso sempre em consideração antes de cogitar em opinar e sair por aí mostrando as ideias.<br />
<br />
Precisamos parar de falar com tanta certeza de tantas coisas que desconhecemos.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-45588560606516753812015-06-12T10:15:00.002-07:002015-06-12T10:22:01.186-07:00Até nunca mais!<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/P5vIheuUXmA" width="560"></iframe><br />
<br />
Antes de começar, achei interessante estabelecer um critério baseado naquela frase: "Elogie em público, corrija em particular". Só vou citar nomes neste post de quem eu for falar bem.<br />
<br />
Tinha prometido para mim mesmo que a Isobar/Massive365 seria a última agência de publicidade que eu trabalharia, inclusive, escrevi este texto antes da minha demissão se concretizar.<br />
<br />
Aliás, vale aqui meu pedido de desculpas para todos de lá: tenho certeza que eles não pegaram a minha melhor fase profissional.<br />
<br />
Fiquei feliz de poder voltar a trabalhar novamente com a infraestrutura de uma agência grande como a Isobar, mas já havia alguns anos que me encontrava decepcionado e um pouco desanimado com o mercado publicitário.<br />
<br />
As grandes e premiadas campanhas deixaram de me empolgar. Pode ser que elas estejam realmente muito piores que as antigas, talvez seja só nostalgia minha, mas de qualquer maneira, não achava nenhuma legal e não me via na gana de fazer coisas sequer parecidas com tudo aquilo de Cannes e outros festivais.<br />
<br />
Em resumo, achava tudo uma grande bosta. Bostas fantasmas que só funcionam em videocases.<br />
<br />
Via os grandes festivais como aqueles desfiles de moda ultra conceituais. A única coisa que passa pela cabeça é: "nunca ninguém vai usar isso na rua!".<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQRJesRfU2W1FY8SOXT4t-PDGVx2QYt6ReSh-qsNSQXXMRdVhz7AB9HzOmrihTGzKPAS5R4SfTWTn4i-9DF-B923xGdPxO2hQP_jWDwTNoi4pEJ1jNDBwPfPDdXaY_PSjw-F0FExNAJW6D/s1600/cannes1.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQRJesRfU2W1FY8SOXT4t-PDGVx2QYt6ReSh-qsNSQXXMRdVhz7AB9HzOmrihTGzKPAS5R4SfTWTn4i-9DF-B923xGdPxO2hQP_jWDwTNoi4pEJ1jNDBwPfPDdXaY_PSjw-F0FExNAJW6D/s1600/cannes1.bmp" width="226" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTtYFYsqRtYx5pi4nXMkDycWXba43H_dLSf5_w4uXXb5DhPLCohFr73p54YYvHKTATWo7ujKSHN09Eq8l8B3GEnusJtfaSSMvfAC6suRNBhWh4CEbQm9CyGAffAn1N-K7uQgzK1fNGhobg/s1600/cannes2.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: right;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTtYFYsqRtYx5pi4nXMkDycWXba43H_dLSf5_w4uXXb5DhPLCohFr73p54YYvHKTATWo7ujKSHN09Eq8l8B3GEnusJtfaSSMvfAC6suRNBhWh4CEbQm9CyGAffAn1N-K7uQgzK1fNGhobg/s1600/cannes2.bmp" width="203" /></a></div>
<br />
Tudo muito inútil criado por um monte de egos inflados e frustrados usando camisa xadrez.<br />
<br />
Mas calma. Não são todos assim. Fiz amigos muito queridos na imensa maioria de agências que trabalhei. Alguns estão sempre presentes no meu dia a dia, outros, lamento por não manter tanto contato.<br />
<br />
Pessoas fantásticas (que eu admiro até hoje) me ajudaram a entrar na redação publicitária. Não me arrependo de ter feito essa mudança do RH para a Criação.<br />
<br />
A OgilvyOne sempre vai ser a melhor agência de publicidade em que já botei os pés. Por ter começado no RH de lá, sabia de dentro dos bastidores todo o respeito que eles tinham por seus funcionários. Desde a preocupação em estar dentro das leis da paternalista CLT até na relação entre todos.<br />
<br />
Não sei como está o ambiente por lá atualmente e o quanto este mercado bizarro prejudicou e/ou moldou a maneira de todos trabalharem.<br />
<br />
Nesses sete anos de experiência, tive que ouvir uma série de pérolas que definem a merda que o mercado publicitário se tornou. Seguem elas.<br />
<br />
<b><br /></b>
<b>1 - "Gente! Publicitário não tem vida pessoal!".</b><br />
<br />
No começo de carreira, até embarquei nessa viagem. Hoje em dia, me enoja ver que os profissionais ainda pensam assim. Os babacas acham legal comer pizza à noite na agência ou que voltar para casa de táxi compensa o cansaço.<br />
<br />
Já me diverti fazendo isso por conta de jobs, porém, sempre tive na cabeça que isso deveria ser uma exceção, algo que deu errado durante todo o processo que exigiu essa jornada extra não-remunerada. Essas noites são divertidas porque as pessoas mantém o bom humor apesar de tudo.<br />
<br />
Não sei quando começou isso, mas os publicitários são os maiores enganados com a publicidade. Alguém fez esses profissionais acreditarem que devemos respirar tudo que é relacionado à área. Assistir Reclame em casa, pesquisar referências na internet no seu tempo livre; assistir filmes, séries, teatro e desenhos; visitar galerias de arte, museus, exposições.<br />
<br />
Até aí, ótimo, mas você tem que fazer tudo isso pensando em como transformar o que foi absorvido em insights e ideias para a agência.<br />
<br />
Você acaba trabalhando 24 horas por dia. Sim, porque até sonhos podem conter insights para as próximas campanhas. Vai saber...<br />
<br />
Eles fizeram você acreditar que a publicidade também é seu hobby.<br />
<br />
Ouvi uma história de um funcionário que adiou a própria cirurgia para trabalhar em uma concorrência. Isso para mim não é dedicação, é ser otário. Por conta dessa opinião, posso dizer que não sou apaixonado pela publicidade.<br />
<br />
<br />
<br />
<b>2 - "Você tem que agradecer pela oportunidade de trabalhar aqui.".</b><br />
<br />
Essa eu ouvi faz pouco tempo. Fantástica! É ridiculamente aceitável no mercado o fato que, se uma agência cresceu o suficiente para ter um bom nome, os salários dela podem ser mais baixos.<br />
<br />
Todos aceitam isso como uma coisa normal.<br />
<br />
Quanto mais paga-pau uma agência tem, menor o salário.<br />
<br />
<br />
<br />
<b>3 - "Acho que ele vai aprovar se fizermos assim...".</b><br />
<b><br /></b>Tive alguns problemas com meus dois últimos chefes. Mas acho que o fator principal é o fato de nossos santos não terem batido. Simples assim.<br />
<br />
Entretanto, havia algo que me incomodava em ambos.<br />
<br />
Certa vez, minha dupla observou que boa parte dos funcionários da criação são artistas frustrados. Pintores, escritores, ilustradores, músicos entre outros, que viram na publicidade uma única área de atuação com salário fixo que paga as contas. Poucas pessoas, quando perguntadas ainda adolescentes, dizem que querem ser "diretoras de arte" quando crescerem.<br />
<br />
Quando esses profissionais caem no varejo, essa frustração duplica. Se eles já trabalhavam em outra área mais "glamourosa" da agência e se sentiram "rebaixados" para o varejo, pior ainda.<br />
<br />
Tenho a impressão que era assim que ambos os chefes se sentiam. Por mais que demonstrassem e racionalizassem os seus objetivos na área: "Eu quero um case premiado de varejo!".<br />
<br />
Não cumprimentavam nem se enturmavam. Tinham sintonia e parceria nulos com toda a equipe.<br />
<br />
Chegamos ao ponto de criar as peças com o objetivo de agradar ao chefe, e não pensando no que seria relevante para o cliente.<br />
<br />
Eu, em especial, passei a travar criativamente. Um misto de insegurança e evidente irritação que me impediam de escrever direito. Isso poderia ser só uma desculpa da minha incapacidade ou então, eu fiquei incapaz por conta do meu saco cheio.<br />
<br />
Enfim, quero deixar claro que reconheço a minha responsabilidade no problema, mas esse tipo de chefe não facilita a vida de ninguém, até porque todos da equipe estavam insatisfeitos.<br />
<br />
<b><br />4 - "Você vai se queimar no mercado!".</b><br />
<b><br /></b>
Desde que comecei a trabalhar como criativo, tive que entrar em um único processo trabalhista. A agência em questão perdia suas principais contas e estava para fechar as portas.<br />
<br />
Os sinais apareciam aos poucos: 13º atrasado pago somente em março do ano seguinte, salários atrasados, vale-refeição atrasado...<br />
<br />
O pior de tudo era o que rolava em paralelo a tudo isso: sócios com carros cada vez mais caros; guitarras, amplificadores e mesas de som; helicópteros de brinquedo circulavam pela agência; viagens para Aspen nas redes sociais...<br />
<br />
Quando fui demitido por conta desse fechamento de portas, vi minha rescisão atrasar uns 3 meses. Não deu outra, precisei acionar a justiça para garantir o recebimento do meu dinheiro.<br />
<br />
Com essa história de "você vai se queimar no mercado", os donos de agência usam terrorismo para que você aceite todas essas bizarrices que existem. Isso infelizmente se cristalizou na cabeça das pessoas.<br />
<br />
<br />
<b>Menção honrosa à agência que inspirou este <a href="http://ziguratt.tumblr.com/post/1319355036/um-mercado-que-vive-de-ideias-nao-valoriza-quem" target="_blank">texto do Ricardo Cavallini</a>.</b><br />
<b><br /></b>
Citei a Ogilvy como o melhor lugar que já trabalhei, queria encerrar esta "carta de despedida" com o pior.<br />
<br />
Um local caricato mesmo após ser comprado por um grande grupo internacional.<br />
<br />
O dia a dia lá dentro parecia um filme de comédia... dramática.<br />
<br />
Um amigo dizia que lá parecia uma rinha de galos que entretinha os sócios. Eu chamava de "mini tretas" porque de repente, duas ou mais pessoas começavam a brigar intensamente. Muitos gritos por poucos minutos e como se nada tivesse acontecido, acabava tudo.<br />
<br />
O sócio maior chegava e anunciava para todos o novo smartphone que tinha comprado e recebia todos os dias às 17h um pão na chapa com toddy em sua sala, preparado e levado por uma das copeiras. Ele também tinha um banheiro exclusivo: sua sala era uma suíte.<br />
<br />
Quando ele convocava reuniões com todos os funcionários, seus discursos motivadores pareciam stand-up comedy. Ninguém levava ou leva um cara desses a sério.<br />
<br />
Os funcionários viravam noites, criavam úlceras e pediam cobertores para o RH para poderem dormir no sofá da recepção.<br />
<br />
Em uma das ocasiões, dormi no meu carro acompanhando o progresso de um job.<br />
<br />
Ironicamente, nesses lugares em que todos se fodem muito, as amizades são as mais duradouras. Lá, fiz bons amigos de agência.<br />
<br />
<br />
Para finalizar, quero dizer que isto não é um manual de etiquetas, ou guia espiritual/profissional/reflexivo. É apenas uma carta de despedida mesmo.<br />
<br />
Acredito que devemos nos dar ao luxo de fechar algumas portas na nossa vida. Essa é uma delas.<br />
<br />
Adeus, publicidade!<br />
<br />
<br />
PS.: tinha escrito este post há alguns meses. Nesse meio tempo, muitas putarias e aventuras aconteceram. Felizmente, uma delas me levou para um lugar excelente. Gostaria de agradecer a todo pessoal da Casa de Desenho e parabenizar seus sócios por terem conseguido reunir tanta gente legal em uma empresa. Assim como a turma do varejo da Isobar, conhecer esse povo até me deu esperança para o futuro da área, mas a minha decisão é final.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-14609015782560729902014-07-10T15:21:00.000-07:002014-07-10T15:21:24.500-07:00Ansiedade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJO1e2Stw-MjZ34fNja5BRrs-2eTnUrybN6Yo1i4f7uFYZuxGYzjx5BhgwMnmPKFzH5gOZUmc9lZIZ1j-EshbK3dkF-iCjDz5h32_AggFa2LrQXal0Je-itey5KWZLqURNYWSMK4FuP7H0/s1600/no_internet_vs_slow_internet-189072.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJO1e2Stw-MjZ34fNja5BRrs-2eTnUrybN6Yo1i4f7uFYZuxGYzjx5BhgwMnmPKFzH5gOZUmc9lZIZ1j-EshbK3dkF-iCjDz5h32_AggFa2LrQXal0Je-itey5KWZLqURNYWSMK4FuP7H0/s1600/no_internet_vs_slow_internet-189072.jpg" height="320" width="100" /></a></div>
<br />
<br />
Era uma sexta-feira qualquer. Estava entediado de pé em um metrô lotado tentando enviar um arquivo via WhatsApp para alguém. Não me lembro quem.<br />
<br />
Falhou.<br />
<br />
Novamente.<br />
<br />
De novo.<br />
<br />
Respirei fundo e desisti. Esperaria voltar à superfície da civilização para fazer isso sem me estressar.<br />
<br />
Fiquei pensando. Não é por nada que as pessoas ficam estressadas em São Paulo. Aqui, te prometem uma cidade que oferece yakissobas e caldinho de mocotó às 3h da madrugada. A maioria das coisas 24 horas por dia.<br />
<br />
E você acredita nisso.<br />
<br />
Aí, acaba morando por aqui com essa expectativa.<br />
<br />
Como é impossível saber onde começa o círculo vicioso, vamos escolher qualquer situação como ponto de partida.<br />
<br />
O cara já vem para São Paulo porque é ansioso. Quer tudo na hora. Quer o tal caldinho de mocotó às 3h da manhã. Admira isso numa grande metrópole.<br />
<br />Já faz alguns anos que vive aqui e ele nunca pediu o tal caldinho. No máximo, foi ao Chico Hambúrguer 24 horas após uma balada.<br />
<br />
O sujeito comprou um Punto Jet porque sempre soube que o transporte público da cidade é horrível, porém, começa a pegar um engarrafamento matador todos os dias.<br />
<br />
Depois que viaja para Nova York, passa a admirar toda a malha de metrô da cidade e resolve aproveitar melhor o que tem em Sampa.<br />
<br />
De repente, seu imediatismo ansioso, que já estava sendo duramente testado nos longos engarrafamentos provocados por motoboys que acham que dirigem ônibus e motoristas de ônibus que pensam que pilotam motos, é golpeado.<br />
<br />
Já não adiantava costurar entre as faixas, ultrapassar pela direita ou dar uma escapada pelo corredor de ônibus. Enquanto ficava parado, via as mensagens dos grupos do WhatsApp e Facebook. Quando conseguia, ligava para alguém, só para ter com quem conversar.<br />
<br />
No metrô, tudo piorou. Além das paradas operacionais, objetos na via e tentativas de suicídio, nesses momentos o sinal da Vivo também vive caindo.<br />
<br />
Nada de 3G. Nada de Wi-fi. Reclamava que o Facebook era 50% pessoas felizes e 50% pessoas que se autointitularam formadores de opinião, mas naquela altura, sentia falta até desses posts.<br />
<br />
No trabalho, ligava para seus colegas para ver se tinham recebido o e-mail.<br />
<br />
Nas conversas de corredor, reclamava que as atualizações de sistema do PS3 demoravam muito tempo, embora levassem, no máximo, 10 minutos para acabar.<br />
<br />
Enquanto o Windows ou qualquer outro software carregava, jogava Candy Crush. Mesmo que fosse só por alguns segundos.<br />
<br />
Não utilizava mais Sedex para enviar qualquer coisa. Tinha que contratar um motoboy para ser mais rápido.<br />
<br />
Enfim. Alguém ansioso quer tudo na hora. Surgem ferramentas que oferecem rapidez. Acontecem falhas diversas. Vem a frustração. Resultado: mais ansiedade.<br />
<br />
Se a preguiça move a evolução, a ansiedade move a tecnologia.<br />
<br />
São Paulo atrai porque tem tudo, só que ao mesmo tempo, nada funciona.<br />
<br />
A gente contrata um pacote motherfucker na operadora de celular. Só que ficamos sem sinal em um monte de lugares.<br />
<br />
Com 200 minutos no plano, a frase mais ouvida/falada é: "A ligação está falhando!".<br />
<br />
Pega o Metrô para escapar do trânsito e não entra no vagão porque a estação está lotada.<br />
<br />
Compra um carro 8.0 que é tão rápido quanto uma diarreia, e fica preso imóvel na 23 de maio.<br />
<br />
Assina um pacote de internet banda larga em casa com 10 mega/segundo e a conexão é instável e a velocidade oficial é de 200 kb.<br />
<br />
Contrata um motoboy para entregar as coisas rápido, mas depois sofre com a confusão que alguns deles causam nas avenidas.<br />
<br />
Mas o caldinho de mocotó... Esse você consegue às 3h da manhã. Às vezes.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-82113565793250613442014-04-07T14:27:00.000-07:002014-04-07T14:27:54.724-07:00Admiração<b>Já admirei alguns colegas da escola</b>.<br />
<br />
Porque eles eram sociáveis e engraçados.<br />
<br />
Hoje, só admiro os amigos próximos que ficaram na minha vida.<br />
<br />
<br />
<b>Admirava muito o Bruce Lee</b>.<br />
<br />
Porque ele descia o cacete em todo mundo.<br />
<br />
Hoje, admiro as artes marciais apenas como uma forma de buscar equilíbrio e saúde.<br />
<br />
<br />
<b>Admirava os intelectuais</b>.<br />
<br />
Porque eles liam bastante e eram cultos.<br />
<br />
Hoje, acho esse rótulo uma babaquice e admiro quem não vende qualquer tipo de auto-imagem.<br />
<br />
<br />
<b>Admirava os politizados</b>.<br />
<br />
Porque eles tinham opinião sobre tudo que acontecia com o país e sabiam com certeza o que precisava ser feito.<br />
<br />
Hoje, enxergo o quanto esse eles são fechados em suas dogmas como nas piores religiões.<br />
<br />
<br />
<b>Admirava os apaixonados pelo futebol</b>.<br />
<br />
Porque eles realmente veneravam seus clubes na vitória e na derrota com o maior dos orgulhos.<br />
<br />
Hoje, vejo corrupção por todos os lados, violência e cegueira por conveniência.<br />
<br />
<br />
<b>Admirava os paulistanos</b>.<br />
<br />
Porque eles eram trabalhadores, faziam horas extras e adoravam falar sobre o que acontece no próprio emprego.<br />
<br />
Hoje, entendo que isso é um desperdício de vida e admiro quem consegue usar seu trabalho como uma ferramenta para se realizar, alcançar sonhos, fazer seus hobbies e viver melhor.<br />
<br />
<br />
<b>Já admirei os bem-sucedidos</b>.<br />
<br />
Porque eles tinham muito dinheiro, frequentavam lugares caros, festas badaladas, usavam grifes e consumiam coisas refinadas.<br />
<br />
Hoje, acho que muitos desses lugares, serviços e produtos são um desperdício de tempo. Admiro um bom boteco com cerveja, petiscos e amigos.<br />
<br />
<br />
<b>Já admirei os briguentos</b>.<br />
<br />
Porque eles não desistiam até ganhar uma discussão e convenciam os outros a aceitarem seu ponto de vista.<br />
<br />
Hoje, percebo o quanto essas discussões são desagradáveis e desnecessárias.<br />
<br />
<br />
<b>No fim, admiro tudo que aprendo</b>.<br />
<br />
Porque a sensação de perceber as coisas de maneiras diferentes do que eu via antes me deixa feliz.<br />
<br />
Daqui uns anos, provavelmente eu vou olhar para o passado e me achar um completo idiota. Da mesma maneira que faço agora.<br />
<br />
Mas isso é parte da experiência. Foda-se.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-58786016210681212842014-04-04T11:43:00.000-07:002014-04-04T11:43:24.185-07:00Dia de Fúria?A ansiedade tinha começado no dia anterior. O tempo demorava para passar.<br />
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<br /></div>
<div>
Ao longo do dia, tinha bebido cinco copos de café na máquina Nescafe do corredor. Ainda tinha uma gambiarra: doses duplas do "café curto". Dose dupla de cafeína.</div>
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<br /></div>
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Tudo isso somado ao fato de que tinha baixado o último episódio de sua série favorita.</div>
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<br /></div>
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Olhava de 15 em 15 minutos no relógio. Enquanto enrolava para fazer suas atividades, ameaçava abrir o arquivo que seu amigo tinha baixado. Estava tudo lá na pasta. MP4 e legendas em português. Assistiu à primeira cena. Parou. Queria ver com calma em casa. Fechou tudo e subiu para seu Dropbox.</div>
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<br /></div>
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Teria que aguentar mais algumas horas até o fim do expediente.</div>
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<br /></div>
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Deu tudo certo.</div>
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<br /></div>
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Chegou em casa em um bom horário. Precisava terminar algumas coisas antes de assistir. Queria deixar tudo preparado para que não tivesse qualquer interrupção. Esquentou a água do Cup Noodles, jantou, lavou a louça, tomou o resto da Coca 2l direto no gargalo e arrumou a bagunça do seu roommate na sala.</div>
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<br /></div>
<div>
Em paralelo, deixou o notebook ligando para que, logo que acabasse as tarefas, sentaria na cama só de cueca para saciar a curiosidade do episódio final.</div>
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<br /></div>
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No fim, o encerramento da série foi como ele esperava. Emocionante, engraçado e intrigante. Mal dormiu durante a noite. Claro que o problema pode ter sido a quantidade de cafeína que ingeriu pouco antes.</div>
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<br /></div>
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Mas o foco desta história é outro.</div>
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<br /></div>
<div>
No dia seguinte, estava no ônibus. A ironia da insônia é o momento que a sonolência chega de verdade. Entre 2h e 3h parecia estar completamente acordado, mas quando o despertador toca às 7h, parece que você está tentando levantar de uma cama feita de Chandelle movediço.</div>
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<br /></div>
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Com aquele ânimo, fechava os olhos e tentava dormir sentado no banco. Ainda estava afobado e ansioso. Não conseguiu dar nem mesmo uma pescada. Aproveitou para resolver algumas coisas pelo telefone.</div>
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<br /></div>
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Era um dia bem quente de outono e o trânsito estava engarrafado. O sol e o calor já começavam a incomodar. Isso não era nada perto da ligação que caía o tempo todo. Ele queria que enviassem uma nova via de um boleto que tinha perdido.</div>
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O sinal da Vivo sumiu cinco vezes seguidas. Uma enquanto ouvia as opções:</div>
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— Para atendimento, tecle 1. Para nova via de boleto, tecle 2. Para sugestões, reclamações, tecle... PUF!</div>
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<br /></div>
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Bufou. Tentou a segunda. Rede ocupada.</div>
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Terceira. Antes de ouvir as instruções, teclou 2. Começou a chamar. Caiu a linha novamente. Sua pele começou a ficar avermelhada.</div>
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<br /></div>
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Quarta vez. Teclou 2. Chamando... Chamando... Tuuuuu... Tuuuuu... Tuuuuu... Cruzou os dedos. Descruzou-os. Fez figa. Caiu de novo.</div>
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<br /></div>
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Quinta vez. Já apertou o 2 com mais força que o normal. Ficou até a marca redonda do dedo na tela touchscreen. Estava quase desistindo. Atenderam! Viva!</div>
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<br /></div>
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— Leilane, bom dia! Como posso ajudá-lo? — a atendente respondeu.</div>
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<br /></div>
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— Eu perdi meu boleto e gostaria de uma nova via.</div>
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<br /></div>
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Passou os dados que foram solicitados. Nome completo e CPF.</div>
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— Ok! Estarei encaminhando a nova via do boleto via e-mail. Pode me confirmar, por favor?</div>
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<br /></div>
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—É M, P, da silva, arroba... PUF! — caiu a ligação de novo.</div>
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<br /></div>
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Tirou o telefone da orelha e, com o aparelho ainda apertado em sua palma, a mão direita começou a tremer. Mordeu tão forte o lábio que chegou a sangrar. Já tinha arrancado pelinha uns dias antes.</div>
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Olhou para os lados e não resistiu: arremessou o telefone com toda força pela janela.</div>
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Dizem que um acidente nunca é provocado por um fator isolado, e sim por um conjunto de incidentes que acontecem ao mesmo tempo.</div>
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Nesse caso, foi um surto de fúria coletiva. Outra passageira no ônibus discutia com o namorado em alto volume. Constrangedor para alguns e irritante para outros que se viam atrasados a seus compromissos. O engarrafamento continuava.</div>
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Assim que o celular foi arremessado pela janela, a explosão se contagiou pelo ônibus.</div>
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— CALA A BOCA! — um homem gritou para a mulher que brigava com o namorado.</div>
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— VAI SE FODER! CUIDA DA TUA VIDA! — ela respondeu.</div>
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— VAMO PARAR COM ESSA PUTARIA AÍ! — esbravejou o motorista, emputecido com o trânsito parado — ANDA! ANDA, CARALHO! — buzinou aos berros.</div>
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<br /></div>
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Os carros da frente andaram um pouco, mas nem deu tempo para o micro-ônibus andar. Um grupo de 15 pessoas, começou a balançar o veículo. Ele se solidarizaram com a mulher que foi atingida na testa pelo celular e estava tonta.<br />
<br />
Cada um deles também tinha seus motivos para ficar tão insano de raiva. O Itaquerão incompleto, o seguro do carro, porrada do dedinho do pé na mesa da sala, uma mancha de café no meio da camisa branca, cheque especial, pisada na poça d'água com sapato de pano...<br />
<br />
Enquanto o micro-ônibus balançava de um lado para outro como o barco viking do extinto Playcenter, os passageiros trocavam socos. Uns tentando escapar pela porta, outros direcionados à mulher do celular, que retribuía sem parar de xingar o namorado:<br />
<br />
— ELES ESTÃO ME BATENDO! NÃO ESTÁ OUVINDO, SEU IDIOTA?<br />
<br />
Os 15 da rua conseguiram finalmente virar o micro-ônibus. Apenas alguns passageiros ficaram feridos, mas mesmo assim, quebraram os vidros e saíram do veículo. Saltaram na rua e gritaram.<br />
<br />
Foram em direção de todos os carros em volta com chutes e voadoras nos vidros. Em uma das esquinas, um homem segurava outro pelo pescoço e batia com sua cabeça no vidro traseiro de um Uno estacionado.<br />
<br />
Na confusão, voavam extintores, caixas de aspargos do Ceasa, fardos de feno, embalagens de serpentinas, travesseiros, próteses de silicone, coturnos, árvores de natal, cintos, tilápias mortas, perucas ruivas e globos terrestres.<br />
<br />
O caos se instalou naquele ponto da cidade e foi só aumentando. Em tempo recorde, a epidemia de fúria já tinha tomado três bairros. Prédios incendiados, vidraças estilhaçadas e alguns corpos nocauteados nas calçadas.<br />
<br />
A polícia militar foi acionada. Todos pareciam bem nervosos também. Não foram orientados a dialogar e já chegaram disparando bombas de fumaça.<br />
<br />
A população ignorou e avançou como um bando de formigas procurando alimento. Atravessaram a tóxica cortina branca e toda a tropa da PM foi atropelada. Mal tiveram uma chance de reagir, se defender ou até mesmo de pedir reforço.</div>
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<br />
Insatisfeitos com mais essa roubada, os policiais jogaram os escudos no chão e se juntaram ao Exército dos Putos, nome criado por Datena para definir o grupo que aumentava e caminhava unido sem direção.<br />
<br />
Da mesma maneira que começou, o frenesi acabou. Uns se deram conta que tinham que fazer o jantar. Outros, ainda precisavam ir ao trabalho. O segurança da rua encontrou um amigo e ambos sorriram ao lembrar da vitória por 2 a 0 do tricolor. Os integrantes foram pouco a pouco se desgarrando por completo.<br />
<br />
Mesmo assim, as autoridades passaram a temer que outro evento como esse ocorresse: o dia em que todo mundo ficou puto ao mesmo tempo.<br />
<br />
No Guinness Book, o recorde foi registrado como "a maior quantidade de pessoas enfurecidas em uma caminhada de 50 km: 643 mil pessoas".Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-14736940215707068882014-03-24T14:38:00.000-07:002014-03-25T10:38:37.424-07:00Fake-up<object height="315" width="560"><param name="movie" value="//www.youtube.com/v/W_IzYUJANfk?version=3&hl=pt_PT"></param>
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Era seu primeiro dia de estágio.<br />
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<br /></div>
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Tinha altas expectativas. Durante a entrevista, o coordenador de criação disse que ele teria um grande aprendizado. Supervisão com profissionais renomados e premiados no mercado. A prateleira da sala de reunião tinha alguns leões de Cannes, entre outros troféus, como Prêmio Abril, El Ojo e Caborés.<br />
<br />
— Preciso me preparar. Quero me enturmar logo, fazer contatos e aumentar meu networking. Já atualizei e tirei uma foto legal para colocar no Linkedin e fiz uma limpa dos meus posts do Facebook. Agora, preciso ver se minha pesquisa e treinamento deram certo! — estabeleceu como meta para si mesmo.<br />
<br />
O treinamento em questão consistia em ler o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas" e tentar parecer o cara mais descolado possível. Foi a característica que usou para definir seus futuros colegas publicitários.<br />
<br />
Baixou a discografia completa do Muse, Strokes, Mumford and Sons e 30 Seconds to mars. Descobriu que The Killers e Foo Fighters eram clássicos. Lera que, quem gostava de rock, teria mais chances de prosperar no mundo das agências. Ao mesmo tempo, não podia ser qualquer banda. Tinham que ser aquelas que foram fabricadas para ser alternativas. Aquelas que seus colegas diriam que gostavam menos hoje em dia porque se tornaram mainstream, mesmo assim, mantinham todos os MP3 em seus iTunes.<br />
<br />
Era importante conhecer bandas que "não faziam sucesso" e um grande prazer dizer que conhecia antes de todo mundo.<br />
<br />
Reformou seu guarda-roupas. Comprou sete camisetas da Camiseteria. Uma para cada dia da semana.<br />
<br />
— Filho, por que sete? Você vai trabalhar só de segunda a sexta.<br />
<br />
— Mãe, é porque em agências é comum trabalhar de fim de semana. É bom para a imagem e carreira. Tenho que estar preparado, mostrar disposição e proatividade para isso!<br />
<br />
Até que chegou o grande dia. Estava com dúvidas sobre o horário de chegada. O entrevistador disse que o horário de chegada variava entre 9h e 9h30. Para não ter qualquer problema, prevaleceu a regra antiga de etiqueta corporativa: apareceu na agência logo no primeiro horário.<br />
<br />
A menina do RH o levou até a Criação. Seu coordenador ainda não tinha chegado.<br />
<br />
Todo o discurso estava ensaiado. Assim que sentasse em sua nova mesa, diria empolgado que estava ansioso para o Lollapalooza e perguntaria para o colega ao lado, para puxar assunto, "qual show você vai ver?".<br />
<br />
Foi um dos primeiros a ligar o computador na Criação. Era um iMac. Estava impressionado e feliz de trabalhar com aquele enorme monitor prateado e fininho. Só não tirou uma foto para não parecer turista demais. Pensava: "fica calmo! Fica calmo!".<br />
<br />
A enorme mesa com mais nove iMacs continuava vazia. Parecia uma merendeira de refeitório. Havia brinquedos do Mc' Donalds de várias gerações.<br />
<br />
Olhou para o Billy, a Mandy, o Puro-Osso, a Turma do Bairro e os Minions. Imaginou quando ganharia seu primeiro prêmio. Lembrou dos relatos de festas de alguns de seus amigos que já trabalhavam na área. As putarias, o open bar e as baladas da moda fechadas só para a confraternização.<br />
<br />
— Será que é igual ao Mad Men? — pensou.<br />
<br />
Já vislumbrou seus Tweets e posts de Facebook dos momentos em que estaria trabalhando demais.<br />
<br />
Na sexta à noite: "Amanhã estou aqui de novo! :( Mas bora lá porque é o que eu amo fazer! #vidadepublicitarionaoefacil".<br />
<br />
Ou então: "Madrugada na agência... O bom é que a internet está rápida pra c@r@&%! #quemmandouescolherpublicidade".<br />
<br />
Os posts tinham que dúbios: reclamar que estava trabalhando demais, mas ao mesmo tempo, mostrar a paixão exacerbada pela profissão.<br />
<br />
Mensagens assim nas redes sociais eram necessárias porque mostram o quanto se está dedicado ao emprego. Isso é muito valorizado em São Paulo.<br />
<br />
A piada/pergunta: "É meio período?", quando alguém vai embora antes de você, tem que estar engatilhada perto das 18h.<br />
<br />
Ficou viajando assim até umas 10h15, quando chegou um cara com o cabelo preto até a cintura, barba cerrada, coturno, calça jeans e camiseta preta lisa.<br />
<br />
— Opa! Beleza! Você é o novo aspira de redação? Meu nome é Diogo! — disse o cabeludo.<br />
<br />
— E aí? Sou sim! Comecei hoje! Meu nome é Theodoro! O pessoal me chama de Theo!<br />
<br />
— Theodoro? Ah, não! Aqui, a gente chama os estagiários de Gilmar. Você é o Gilmar III.<br />
<br />
— Hahaha! Beleza!<br />
<br />
Levou na boa. As outras pessoas começaram a completar a mesa. Alguns se apresentaram, outros não. Todos estavam meio sonolentos e a manhã seguiu meio silenciosa até a hora do almoço.<br />
<br />
Nenhum job tinha aparecido para Gilmar III, que acessou o Blueprint, Ads of the world e the FWA para procurar referências, conforme seu professor indicou.<br />
<br />
Postou no Facebook: "Primeiro dia em uma agência grande. #conquista <a href="http://blogoura.blogspot.com.br/2013/06/de-lorean-creative-solutions-ltda.html" target="_blank">#delorean</a> #felizpracaraio". Recebeu seus likes e comentários de parabéns.<br />
<br />
Já não tinha mais o que procurar na internet. Era necessário quebrar o gelo e puxar assunto.<br />
<br />
Respirou fundo e perguntou para Diogo:<br />
<br />
— E aí? Vai no Lollapalooza? Estou ansioso para ver o Arcade Fire!<br />
<br />
— Rolla Pra Loser? Hahaha! Numa boa, cara! Eu detesto esse festival e todas as bandas que tocam lá.<br />
<br />
E foi a primeira vez que o mundo de Theo caiu.<br />
<br />
A segunda, foi quando precisou fazer o texto de e-mail marketing temático de Dia de Finados. Ia rolar um feirão de apartamentos perto da data.</div>
Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-72291425995469956212014-02-19T05:59:00.000-08:002014-02-19T06:37:08.975-08:00Lesma<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_s7I3fHhyphenhyphen3DzuREAup32WT5_bcg725PaQFFxfTEiXNJfxqqn6mkdofvUZ44bPtz9VMWYJ3WGfeba-u5hSBK0_H8EIhdwocEmZcVJBd1KkDpSzLRZ2FNakvVB9sEtThd661hBxZbW0Lctu/s1600/slowpoke_by_rones_13_1829769_christmas_xmas_stuffed_animal-3333px.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_s7I3fHhyphenhyphen3DzuREAup32WT5_bcg725PaQFFxfTEiXNJfxqqn6mkdofvUZ44bPtz9VMWYJ3WGfeba-u5hSBK0_H8EIhdwocEmZcVJBd1KkDpSzLRZ2FNakvVB9sEtThd661hBxZbW0Lctu/s1600/slowpoke_by_rones_13_1829769_christmas_xmas_stuffed_animal-3333px.png" height="311" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Era uma tarde preguiçosa no domingo de Carnaval. Esperava por alguns amigos no quiosque bem em frente à praia das Astúrias.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Eu tinha sido o único a acordar sem ressaca naquele dia e resolvi tomar umas brejas até eles chegarem. Aproveitei para ler meu livro em algum lugar que tivesse luz. Mentira. Eu poderia acender as luzes sem incomodar ninguém no apartamento, mas a cerveja tinha acabado.</div>
<br />
A praia estava movimentada. Tanto que não conseguia prestar atenção na minha leitura. Resolvi olhar o mar, aproveitar a brisa e continuar com a cerveja.<br />
<br />
De vez em quando, dava umas folheadas no livro. Abria em páginas aleatórias anteriores só para confirmar se eu tinha guardado o conteúdo. Coisa besta.<br />
<br />
A cerveja estava deliciosamente gelada. Não me lembro se era Original ou Serra Malte. Quando estava para tomar mais um gole, um Uno novo verde lumicolor estacionou na rua de frente para a praia.<br />
<br />
De lá, desceu um casal de mãos dadas. Tinham aproximadamente uns 25 anos. A menina carregava na mão esquerda um travesseiro. O cara acompanhava seus passos enquanto olhava se podia travar o carro e acionar o alarme.<br />
<br />
Logo atrás deles, vieram uma amiga e um amigo. Obviamente não estavam juntos, mas claramente ele estava tentando alguma coisa. O primeiro casal ia bem mais na frente para dar mais tempo a sós para os amigos.<br />
<br />
A menina arrastava uma mala com rodinhas pela calçada. O menino se ofereceu para ajudar.<br />
<br />
— Dá aqui que eu levo! — com o esboço de um sorriso.<br />
<br />
— Não! Eu levo! — ela respondeu, também sorrindo.<br />
<br />
— Dá aqui! — e tomou a mala da mão dela. Ela riu.<br />
<br />
A abordagem foi rude, mas bem-humorada. Ele queria deixar sua gentileza e cavalheirismo nas entrelinhas. É aquela insegurança. As gentilezas escapavam aos poucos. Parecia uma criança com boia de dinossauro tentando entrar na água gelada. Mergulhava o dedão, sentava na borda da piscina com as canelas enfiadas na água, molhava a mão direita... Tudo isso poderia resultar num mergulho ou não.<br />
<br />
Lembrei na hora de uma viagem que fiz com dois casais de amigos. Uma lembrança que dá vontade de pegar uma máquina do tempo e me estapear cinco vezes na cara lá na época.<br />
<br />
Já saíamos bastante juntos. Eu era o único solteiro daquela turma. Não era tão constrangedor. Eles diziam: "não são dois casais e um solteiro. São cinco amigos!". Era verdade. Eu acreditava. Acho que eu era divertido o suficiente para me quererem por perto.<br />
<br />
Um dia, a irmã de uma das meninas terminou seu namoro. Ela passou a acompanhar a galera nos encontros.<br />
<br />
Sempre fui lerdo. E sempre duvidei da minha percepção. Hoje, sobram facepalms quando essas coisas surgem de repente na cabeça.<br />
<br />
Tínhamos ido a uma churrascaria quando a conheci. Falei minhas besteiras normalmente. Sem nervosismo. Vagamente lembro de umas trocas de olhares. Nada demais.<br />
<br />
Semanas depois, fomos todos para um bar. Rolaram cervejas e algumas doses de tequila naquele sábado à noite. Entre risos descontrolados e longas abobrinhas, não sei exatamente de onde veio a ideia, mas combinamos uma viagem no próximo feriado prolongado. Todos juntos. Todos toparam.<br />
<br />
Cada "casal" ficaria em um chalé.<br />
<br />
Ainda no bar, ideias de bêbados, fizeram com que eu assinasse em um guardanapo o termo de compromisso de que não haveria investidas na menina enquanto estivéssemos no quarto. Como se eles não me conhecessem.<br />
<br />
A viagem até a cidade foi um pouco mais estranha. Surgiam alguns momentos no banco de trás em que faltava assunto. Nada de muito anormal.<br />
<br />
Olhando para trás, se fosse escrever uma carta para meu eu do passado, diria que o erro número um fora cometido logo no check-in. Chegando no chalé que dividiríamos, havia uma cama de casal e outra de solteiro.<br />
<br />
Em minha proativa e estúpida gentileza típica dos "nice guys finish last", escolhi a cama de solteiro. BAM! O primeiro passo para a tão temida friendzone.<br />
<br />
Foram três diárias. Tínhamos levado bebidas variadas. A tequila era a favorita. Unanimidade. Logo no primeiro shot, quis mostrar virilidade e virei um copo descartável que equivalia a uma dose maior que a normal. Acho que deu para ver o movimento do meu estômago e toda a contração da minha caixa torácica tentando devolver o líquido em um misto de engasgo, soluço e refluxo. Todos se espantaram, mas deu tudo certo. A tiração de sarro até que foi curta.<br />
<br />
Mais álcool madrugada a dentro. Risadas, besteiras, risadas, zoeira, risadas, sarros. Eu fazia o alvo gargalhar. Acho que foi um ponto positivo. Só não me lembro se eram palhaçadas que queimavam meu filme.<br />
<br />
Lá pelas 3 horas, o primeiro casal se cansou e foi dormir. Despediram-se. Foi a nossa deixa. Aproveitamos e fomos também para o nosso quarto.<br />
<br />
Deitei na minha cama de solteiro e ela, na dela de casal. Conversamos por mais algumas horas. Até reclamaram das gargalhadas dela durante o silêncio da pousada. Mas no fim, dormimos. Como nos outros dias até o fim da estada. Cada um em sua cama.<br />
<br />
Acho que o momento mais próximo que tivemos foi quando deitamos juntos na cama de casal, bêbados, para tirar umas selfies com uma máquina fotográfica analógica. Nem sei aonde foram parar essas fotos. Também não me lembro porque naquele momento acabou não rolando nada.<br />
<br />
Faz muito tempo que não vejo ou falo com qualquer um daqueles cinco. Um casal se desfez, outro já teve filhos. A prospect já deve até estar casada.<br />
<br />
Nossa! Parece até uma daquelas histórias <a href="http://historiasemgraca.tumblr.com/" target="_blank">sem-graça</a>. Mas a vida é assim. Repleta de coisas sem-graça. Sem cor. Sem grandes reviravoltas. Todos os dias isso acontece.<br />
<br />
Muitas vezes, são justamente esses capítulos tediosos que reaparecem na memória. Quando você pensa no que você teria feito de diferente. Quando imagina o que tornaria aquele momento um post de Facebook memorável e colocaria as fotos em um álbum chamado "A vida é tão boa!!!".<br />
<br />
Depois da sessão nostalgia, continuei bebendo minha cerveja no quiosque. Uma meia hora depois, meus amigos e minha namorada desceram do apartamento para me acompanhar.<br />
<br />
Foi quando me dei conta. Será que eu teria me tornado um putão-comedor depois daquela viagem? Difícil. Mais confiante? Talvez. Qual o rumo que a minha vida teria tomado? O ponto é que estava satisfeito com tudo.<br />
<br />
No fim, o mais interessante dessa história é contar que fiquei no mesmo quarto e mesma cama da pessoa que eu gostava. E não fiz nada. Slowpoke!Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-20522422679063061182014-02-11T13:20:00.000-08:002014-02-11T13:24:00.304-08:00Tale SpinNo meio de uma das quadras de basquete, lá no Parque do Ibirapuera, um grupo de jogadores esquece do jogo que tinha planejado e acompanha boquiaberto uma cena inusitada.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Próximo ao centro da segunda quadra, um homem de aproximadamente 25 anos está de braços abertos rodando freneticamente. Provavelmente é destro, porque a perna direita faz a maior parte do esforço. A esquerda parece funcionar mais como apoio ou eixo do movimento. De vez em quando, as duas pernas se mexem, parecendo uma mini-corrida em um minúsculo círculo imaginário no chão.<br />
<br />
Abaixo de umas das tabelas, outro cara também jovem bate a cabeça no poste de metal repetidas vezes.<br />
<br />
CLANG!<br />
<br />
CLANG!<br />
<br />
CLANG!<br />
<br />
— Idiota! — sussurrava a cada cabeçada.<br />
<br />
Após alguns minutos de pura contemplação, olhos arregalados e incompreensão, um dos jogadores resolveu perguntar para o "cabeceador" o que estava acontecendo.<br />
<br />
Ele responde:<br />
<br />
— Claro! Eu explico. Estão com tempo?<br />
<br />
Tudo tinha começado no fim da semana passada. Na sexta à tarde.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3isO9kzLbP_g1kw8ReAiIDgoMcOAchkFISBIrH4ppFF77bq2cWlTL7tjx-ahHlU9oQfza1eHkoqX14VpdMWYut53r_UL-Yq8M648ISI7XGoaoTCAX5PO2hXyurXTKtVJIeJ5FWr1SlUY9/s1600/girando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3isO9kzLbP_g1kw8ReAiIDgoMcOAchkFISBIrH4ppFF77bq2cWlTL7tjx-ahHlU9oQfza1eHkoqX14VpdMWYut53r_UL-Yq8M648ISI7XGoaoTCAX5PO2hXyurXTKtVJIeJ5FWr1SlUY9/s1600/girando.jpg" height="228" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
As coisas estavam tranquilas depois do almoço.<br />
<br />
O departamento discutia sobre as declarações da Rachel Sherazade e o adolescente que fora amarrado no poste. Alguns se exaltavam. Diziam: "daqui do ar-condicionado é fácil julgar as escolhas do menino!". Outros rebatiam: "Tem gente que é ruim mesmo. Não há condições sociais boas ou ruins que mudem a índole de uma pessoa!".<br />
<br />
Era mais uma tarde ociosa para turbinar as proporções de algum fato inicialmente insignificante para as vidas deles. Um ibope que faltava para Rachel. Uma tentativa inútil para que seus editoriais não pareçam um piti ranhento-birrento.<br />
<br />
Até que surgiu outro assunto: a professora da PUC que postou a foto de um homem vestindo regata e bermuda no aeroporto. Novo debate. Corta para o break! Já voltamos! Conhece a nova Tecpix?<br />
<br />
Quando já faziam a associação da professora com os justiceiros que prenderam o menor no poste, Bernardo teve sua epifania.<br />
<br />
Bernardo é o primeiro personagem de destaque nesta história. O excêntrico jovem que rodava na quadra de basquete do Ibira.<br />
<br />
Ele pensou: "o cara da regata nem percebeu que estava sendo fotografado. A única pessoa que estaria sofrendo com o assunto é a própria professora.".<br />
<br />
Todos em volta dele continuaram discutindo, mas era como se estivessem em um longo silêncio. Bernardo continuou refletindo: "o cara de regata estava cagando para toda a situação. Se a foto não tivesse viralizado tanto, ele nem saberia que a letrada professora com abstinência de glamour tinha feito chacota.".<br />
<br />
E prosseguiu: "ele só queria ficar confortável. Conseguiu. Agora, se quiser, ainda fatura uma grana em algum processo sobre a mulher. Mas nem é esse o ponto. Ele estava no aeroporto como se fosse uma criança. Só preocupado com o próprio bem-estar. Não estava interferindo na vida alheia. É isso! Veja como ele está desencanado. Preciso ser mais como na minha infância!".<br />
<br />
Até que disse em voz alta:<br />
<br />
— Começo esta semana!<br />
<br />
A discussão acaba. Todos olham para Bernardo, meio sem compreender, e voltam a trabalhar normalmente. Já era hora. Os outros colegas do departamento não estavam gostando do volume e exaltação da conversa.<br />
<br />
Na cabeça de Bernardo, tudo estava claro. Era uma nova filosofia de vida.<br />
<br />
Quais são as melhores características do nosso comportamento infantil? Sinceridade, autenticidade, alegria. Energia? Disposição? Talvez.<br />
<br />
Contou a novidade para seu melhor amigo Paulo, conhecido até aqui simplesmente como o "cabeceador". Este, sabendo como funcionava a cabeça obstinada de Bernardo, fez um facepalm mental e já se preparou para as várias encrencas que estariam por vir.<br />
<br />
Nos primeiros dias, Bernardo ficou sincero demais. Sem papas na língua.<br />
<br />
Seu chefe chamou:<br />
<br />
— Bernardo! Preciso do relatório de orçamento de material pronto às 17 horas.<br />
<br />
— Bom, eu tive que refazer a planilha de horários de entrega nas filiais do país inteiro. Só consigo cumprir esse prazo se eu cagar meu próprio avatar de merda e arranjar um computador para ele fazer o serviço. O que acha? Pode me fornecer essas condições de serviço? — respondeu de bate-pronto.<br />
<br />
— Strike um, Bernardo! — gritou o chefe, puto.<br />
<br />
— Cara, o que você está fazendo? — perguntou um colega de Bernardo.<br />
<br />
— Sendo espontâneo! — falou Bernardo — Strike um? Por um acaso isso é uma ameaça?<br />
<br />
Levantou-se e foi até a sala do chefe. Lá de dentro, dava para ouvir algumas frases. Todos fizeram silêncio para acompanhar o diálogo.<br />
<br />
— Você enlouqueceu? Esqueceu onde está? O que você pensa que está fazendo? Bernardo! Essa caneca foi meu filho que fez pra mim no Dia dos Pais! Pare!<br />
<br />
— Estou fazendo meu avatar! Dá licença!<br />
<br />
— Segurança!<br />
<br />
Em torno de 7 seguranças carregaram um agitado Bernardo até a saída da empresa. Ele se debatia tanto que parecia o rabo de uma lagartixa que acabara de ser cortado. Ainda estava com as calças e cueca abaixadas até a altura do joelho.<br />
<br />
Deitado na calçada, Bernardo levantou as calças e se sentou na guia. Após respirar algumas vezes, ligou para Paulo e contou o ocorrido.<br />
<br />
— Você é pirado mesmo, cara. Vamos tomar umas brejas e conversar sobre isso.<br />
<br />
— Beleza.<br />
<br />
Paulo chegou de carro, pediu para Bernardo entrar e seguiram para o primeiro bar que encontraram em Moema. Um boteco de frente para a praça da igreja.<br />
<br />
Bernardo não quis entrar.<br />
<br />
— Espera! Não posso beber! Crianças não bebem!<br />
<br />
Paulo respirou fundo e esfregou os olhos com as palmas das mãos.<br />
<br />
— Tá. O que você quer fazer? Como as crianças fazem para afogar as mágoas?<br />
<br />
— Tomar uma overdose de Yakult ou Chambinho não vai adiantar... Já sei! Vamos para o Parque do Ibirapuera.<br />
<br />
Chegando lá, deixaram o carro em uma travessa da IV Centenário e a foram direto para as quadras de basquete.<br />
<br />
Paulo pressentia que nada de bom poderia vir daquilo tudo, mas foi compreensivo ao máximo com seu amigo de infância que acabara de ser demitido. "Vamos ver aonde isso vai dar..." — pensou.<br />
<br />
Foi quando Bernardo começou a girar no centro da quadra e gritava para explicar:<br />
<br />
— É o único jeito de ficar tonto sem beber, fumar ou cheirar nada! Eu fazia isso quando tinha quatro anos e achava o máximo! Tenta também!<br />
<br />
Paulo não acreditava no que via.<br />
<br />
— Ber... Bernardo... Para com isso... Pa... Para! O que caralhas você está fazendo?<br />
<br />
Com vergonha alheia, ainda pediu mais vezes para Bernardo parar. Em vão. Alguns minutos depois, o senso de responsabilidade com o amigo enlouquecido brigava com a vontade de ir embora. O conflito e o desespero fizeram Paulo bater com sua testa no poste da tabela de basquete.<br />
<br />
A ambulância chegou meia hora mais tarde.</div>
Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-4375093124064159892013-12-17T12:27:00.000-08:002013-12-17T12:27:21.942-08:00Velho batuta<div style="text-align: center;">
<object height="315" width="420"><param name="movie" value="//www.youtube.com/v/peouY3jWzck?version=3&hl=pt_PT"></param>
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<br />
Tocava baixo na banda ZZ Top Cover SP. A genética ajudava. Sua barba crescia bem rápido e em alguns meses, chegou ao comprimento necessário.<br />
<br />
Tinha largado seu último emprego para se dedicar à música, mas as coisas não andavam bem.<br />
<br />
"É só uma fase!" — pensava. Além dos covers nas noites do Bixiga e Moema, investia pesado as economias que juntou em seu projeto de composições próprias. Só que os rendimentos das aplicações não estavam sendo suficientes para cobrir todas as despesas.<br />
<br />
"Preciso de um bico!". Não queria nem pensar em fazer algo parecido com as atividades do último trabalho dito "normal". Ou seja: nada relacionado a Departamento Pessoal ou Recursos Humanos. Nada de planilhas, CLT, relatórios, orçamento de pessoal, processos seletivos ou dinâmicas de grupo estapafúrdias.<br />
<br />
Tinha calafrios quando se lembrava de seu último chefe. O cara era um neurótico hipócrita. Ficava com a antena ligada procurando momentos de ócio de seus subordinados, mas como sentava no canto da sala, passava horas do dia resolvendo assuntos pessoais. Pesquisava preços de tintas para a reforma de sua casa, colhia tranquilamente seus morangos em Farmville e assistia a tutoriais de oito minutos sobre cortes de cabelo no YouTube.<br />
<br />
A ansiedade desse gestor era grande. Aplicava tanta força no mouse, que quando o mexia, o atrito com a mesa emitia um som parecido com o de uma buzina de algodão-doce.<br />
<br />
Mas eram tempos passados. Desistira de "ser alguém na vida", de pegar o trem lotado todos os dias, de fazer baldeações por corredores estreitos com milhares de pessoas, de ocasionalmente limpar micro-pingos de catarro na manga da camisa quando alguém espirrava sem colocar a mão na boca.<br />
<br />
Tudo isso passou por sua cabeça num segundo, enquanto refletia sobre as escolhas que tinha feito na vida e no momento em que aceitou o emprego temporário de Papai Noel do Shopping Center Norte. Um cargo muito concorrido após anos e anos de um jingle inesquecível.<br />
<br />
Não estava arrependido. A comprida e sedosa barba natural facilitou a escolha e começou a trabalhar logo no começo de dezembro.<br />
<br />
As exigências eram simples: sorrir, ouvir os pedidos das crianças e não ter ereções.<br />
<br />
Só que nosso amigo foi proativo: passava lindas mensagens e lições para os pequeninos e seus pais.<br />
<br />
— Oi, Papai Noel!<br />
<br />
— Ho... Ho... Ho... Olá, pequerrucho! Quantos anos você tem?<br />
<br />
— 7 anos!<br />
<br />
— E o que você quer de presente de Natal?<br />
<br />
— Eu quero um iPad!<br />
<br />
— Tenho uma coisa melhor aqui: um vale-lama. Se você chamar um amiguinho para brincar no parquinho mais perto da sua casa após um dia de chuva, você mostra esse cupom para o seus pais. Assim, você pode brincar lá mesmo se tiver lama e pode se sujar à vontade.<br />
<br />
— ... Brigadu... — respondeu o menino, sem entender direito.<br />
<br />
Com muita criatividade, distribuía diferentes cupons. Além do vale-lama, tinha também o vale-dormida na casa do amiguinho, vale-sobremesa extra, vale-brincadeira com os pais, vale-futebol na chuva e um vale-visita ao parque.<br />
<br />
O mês foi passando, e como todos os trabalhos que exigem criatividade, mas que não valorizam os criativos, o saco de nosso protagonista foi se enchendo. Sem trocadilhos.<br />
<br />
A cada criança birrenta, o humor do Papai Noel transitava entre a ironia e a completa acidez nas palavras.<br />
<br />
— Eu quero o game "Unilever Dish Monsters 3D" para Kinect!<br />
<br />
— Dish Monsters? Como é esse jogo? — perguntou o Papai Noel em um súbito lampejo de genuíno interesse.<br />
<br />
— É um jogo que se passa na cozinha de uma casa! Bactérias alienígenas planejam o domínio da Terra e se alimentam da combinação de restos de arroz seco grudados em porcelanas. Para combater eles, você precisa lavar a louça com o detergente especial criado pela Unilever! Aí, você faz movimentos circulares com a mão direita, enquanto segura o prato com a mão esquerda! Assim, com o braço esticado na frente e mexendo o pulso, você liga e desliga a torneira!<br />
<br />
— Olha só!<br />
<br />
E o garoto continuou:<br />
<br />
— Se deixar o prato de molho na água quente, torneira da direita, você facilita a remoção do arroz seco na louça!<br />
<br />
O Papai Noel não aguentou, interrompeu a criança e berrou com toda a força do diafragma:<br />
<br />
— PORRA! ENTÃO, POR QUE CARALHAS VOCÊ NÃO LAVA A LOUÇA DE VERDADE E AJUDA SEUS PAIS?!<br />
<br />
Silêncio no Center Norte. Um fato absolutamente inédito em quase 30 anos de existência, se considerarmos que era dezembro, poucas semanas do natal. Todos ficaram boquiabertos com o grito do bom velhinho.<br />
<br />
O capitalismo. Em menos de 5 minutos, o burburinho voltou e todos continuaram com suas compras.<br />
<br />
Nosso amigo natalino foi despedido do shopping, mas logo conseguiu outro emprego: uma agência de publicidade o contratara para fazer posts na FanPage "Papai Noel Sincero".Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-74485159418642557672013-10-31T06:11:00.000-07:002013-10-31T06:11:05.339-07:00Avenida das Nações Unidaseu tenho<br />
consciência<br />
da minha<br />
displiscência<br />
para fazer versos.<br />
<br />
leio<br />
e sinto nada<br />
igual<br />
psicopata<br />
só aliteração.<br />
<br />
eu só<br />
imagino<br />
professor<br />
de cursinho<br />
lendo empolgado<br />
<br />
a grande<br />
ironia<br />
é que acho<br />
poesia<br />
chato pra caralho.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-54082521713659257922013-10-18T10:37:00.000-07:002013-10-18T10:50:46.528-07:00CagueiRodando o copo e sentindo o aroma da bebida. <br />
— Nossa, que cerveja é essa?<br />
— É a gelada.<br />
<br />
— Para mim, Muse é a melhor banda do mundo!<br />
— Sabe a diferença entre a sua opinião e uma pizza?<br />
— Não.<br />
— É que a pizza eu vou pedir hoje à noite.<br />
<br />
— Caraca! Faltam só 2 meses para acabar 2013! <br />
— Permita-me discordar do que você falou. Anos são apenas enganações. O que muda entre o Natal e o Ano Novo? Nada! Seu dia vai ser o mesmo. Você vai dormir, acordar, trabalhar e fazer suas coisas.<br />
— Foda-se.<br />
<br />
— Comecei a ler Universo numa casca de noz!<br />
— É uma bosta! Quando você conseguir ler uma tese de verdade, você vai ter meu respeito.<br />
— Na boa? Caguei pro seu respeito.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-37188022949771531302013-10-12T08:09:00.003-07:002013-10-12T08:13:29.073-07:00BodeAndava com bode de gente.<br />
<br />
A situação piorou quando pegou mais um livro do Bukowski para ler. Gostava muito do estilo dele. Não era a crueza de como ele descrevia as cenas, a vida, as corridas de cavalo ou as trepadas. Era a maneira como Buk aloprava a intelectualidade.<br />
<br />
Estava de saco cheio das pessoas que tentavam mostrar o tempo todo que sabiam alguma coisa. Sentido da vida: comer, reproduzir, sobreviver e se mostrar.<br />
<br />
Aos poucos, evitava entrar em discussões. Há tempos que elas não têm o objetivo da iluminação, como os antigos filósofos queriam. Hoje, toda discussão é só uma batalha de egos. Tipo Pokemon. O importante é a vitória, mesmo que você se descubra como errado em algum momento.<br />
<br />
Acho que era por isso que não conseguia ler na cama. Por mais que fosse um livro que gostasse muito. Deitado, não conseguia fugir da rajada de pensamentos metralhando sua cabeça.<br />
<br />
Lembrou das vezes em que preferiu ficar calado para não se meter em uma conversa inútil. Seus amigos falavam sobre jazz na hora do almoço. Com um tom de voz muito alto e desnecessário. "Para que isso?", pensava. "Claro que é para mostrar aos outros que são descolados, cool e entendem de jazz.".<br />
<br />
Era possível sentir no ar a ansiedade de cada um dos participantes do culturalmente rico diálogo. Arregalavam os olhos e nem prestavam atenção no que o outro estava falando. Só ouviam o suficiente para dar sua importante contribuição ao assunto. Aguardavam ansiosamente o momento e na primeira brecha, se aliviariam com a descarga de conhecimento represado.<br />
<br />
Quando o clima ficava assim, resolvia não se meter. O que o deixava agoniado era quando via que falavam algo errado. Queria entrar na história e dizer a resposta correta. Mas se controlava. Era melhor deixar do jeito que estava.<br />
<br />
Aos poucos eliminava do seu sentido de vida a necessidade de se mostrar. Ainda cometia alguns deslizes. Lembrou de quando queria espalhar indignação e mensagens para acordar os brasileiros. Queria escrever críticas sociais na internet. Queria ser formador de opinião. Queria protestar sem tirar a bunda da cadeira. Sonhava em se alistar no Sea Shepherd para participar do Whale Wars.<br />
<br />
Tentou ser politizado e quis ser religioso.<br />
<br />
O interessante é que ao assumir uma posição em qualquer um desses assuntos, e ainda escrever, ficava desconfortável. Sentia que havia algo errado. Acho que é porque lidava com as coisas de maneira absoluta.<br />
<br />
Nada deu certo e não se envergonhava de ter falhado, e sim de ter tentado. Mostrar-se entendido de qualquer assunto era o que ele mais abominava. Queria assumir para sua vida que o importante era saber e não que os outros soubessem que você sabe.<br />
<br />
Ficava pensando nisso tudo até adormecer, e com toda essa avalanche na cama, só conseguia ler no ônibus.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-35346809770759612672013-10-08T17:35:00.000-07:002013-10-08T17:35:22.602-07:00EsfingeTodas as segundas e quartas, tem o curso de pós-graduação em Psicologia Hospitalar.<br />
<br />
Clarice se formou na faculdade em 2002. Por conta das oportunidades disponíveis no mercado, iniciou um estágio em Recursos Humanos no segundo ano, mas nunca abandonou seu sonho de ser psicóloga na área da saúde.<br />
<br />
Por conta desse desejo, mesmo na época em que estagiava e era efetivada no RH da Pássaros de Goiânia Construção e Vendas, fez quatro pós-graduações: uma em Psicologia da Saúde, outra em Psicossomática, além das especializações em Psicanálise moderna e Psicopatologia de Lacan.<br />
<br />
E ia para a nova pós todas as segundas e quartas. Sempre com seus óculos de armações grossas azuis, seus cabelos soltos, na altura dos ombros, com reflexos loiros e seu tablet com teclado físico. Tinha uma coleção de sapatos sociais com um saltinho de 5 cm que combinavam com outro conjunto de terninhos sociais.<br />
<br />
Chegava às aulas geralmente com um pão de batata, mas dependendo da pressa (e das nóias com o peso) às vezes recorria a seu estoque de barrinhas de cereal, que sempre comprava em um atacadista perto da empresa.<br />
<br />
Cinco anos de faculdade até 2002, mais quase 10 anos de pós-graduações, e ainda assim Clarice continuava pensando em descobrir um manual de instruções ou guia infalível ilustrado para o comportamento humano.<br />
<br />
Assistia demais a séries como "House", "The Mentalist", "Bones" e "Lie to me". Achava que conseguia reparar nos mesmos detalhes que os protagonistas dos seriados, tanto em entrevistas de processo seletivo na Pássaros de Goiânia, quanto em seus escassos atendimentos psicoterapêuticos.<br />
<br />
Apesar do forte barulho "toc-toc" que seus sapatos faziam no chão a cada passo que dava, Clarice parecia flutuar no ar. Fazia questão de olhar nos olhos das pessoas com quem conversava. <br />
<br />
A máscara de psicóloga clínica nunca saía de seu rosto. No trabalho, quando atendia a algum funcionário da empresa, tinha o seguinte ritual:<br />
<br />
— Bom dia, Clarice! Posso tirar uma dúvida com você?<br />
<br />
— Claro! — respondia. E tirava os óculos, deixava sobre a mesa e colocava a mão direita no queixo, com o dedo indicador na sua bochecha apontando para a orelha. Era um detalhe importante que tinha lido em um livro de linguagem corporal: seu dedo indicava o ouvido para mostrar que estava aberta a ouvir.<br />
<br />
Enquanto falavam com ela, Clarice fazia uma expressão facial de profunda reflexão sobre o que a pessoa estava dizendo. Franzia a testa, sorria e acenava discretamente com a cabeça para mostrar concordância. Quando necessário, também fechava levemente os olhos e contraía a boca. Tudo dependia do assunto tratado. Ela tinha um leque enorme de expressões para incentivar quem estava falando.<br />
<br />
Quando Clarice se formou na faculdade, passou a sentir que podia conversar de igual para igual com seus professores. Agora, eles são colegas de trabalho. Uma postura que digamos, tumultuou todas suas aulas em todos os cursos de pós-graduação que fez.<br />
<br />
Porém, a gota d'água foi na última quarta-feira.<br />
<br />
O professor discutia um caso clínico de outra aluna com a sala de aula. Em algum momento, ele pediu para a aluna investigar melhor o caso com o paciente.<br />
<br />
Citou uma recente pesquisa relacionada ao assunto. Os resultados do trabalho em questão denunciavam várias inconsistências nos comportamentos e reações do paciente da aluna. No caso, ele seria uma gigante exceção a uma forte tendência comportamental.<br />
<br />
Claro. Exceções podem ocorrer. Pesquisas não são manuais de comportamento humano. O professor pediu apenas para a aluna investigar melhor. E ela aceitou o conselho. <br />
<br />
O problema foi quando Clarice resolveu se meter no debate. Parte por necessidade de autoafirmação, parte por não respeitar muito aquele colega de trabalho que ministrava aulas. Contou um caso clínico parecido e questionou:<br />
<br />
— Quer dizer que ela não pode acreditar no <b>paciente dela</b>? E a relação de confiança? Comigo aconteceu algo bem parecido! — a ironia aqui é Clarice ser fã de House, que afirma: "everybody lies!".<br />
<br />
A discussão continuou por alguns minutos. Na cabeça de todos, a balança pesava: trabalho de pesquisa internacional X crazy bitch com três casos clínicos na carreira.<br />
<br />
E prosseguiu. Duas alunas aproveitaram para ir ao banheiro. O professor bufava. A mais novinha do curso dormia na cadeira. Outra mulher acessava ao Facebook.<br />
<br />
O único homem da sala, com 1,90 m de altura, ficou puto. Levantou da cadeira dele e foi em direção à Clarice.<br />
<br />
Como um príncipe, levantou-a nos braços.<br />
<br />
E como um ogro, jogou-a pela janela da sala de aula, no corredor da universidade.<br />
<br />
Ele foi expulso do curso. Clarice vai voltar na segunda seguinte.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-74117290928195365022013-09-16T14:44:00.000-07:002013-09-16T14:44:13.249-07:00TestosteronaLuiz é um quase famoso lutador de MMA, conhecido apenas por alguns entusiastas do esporte.<br />
<br />
Continua invicto no circuito que participa. O cara é faixa preta 5º dan em Karatê Shotokan, Jiu-jitsu e treinara alguns anos de Hap-ki-do.<br />
<br />
Luiz sempre foi baixinho e seu pai sempre lhe deu o mesmo conselho para evitar que tivesse problemas com bullies:<br />
<br />
— Se alguém aprontar alguma coisa com você, revide logo na primeira vez. Lembra o Sr. Barriga? Em algum momento, o Seu Madruga deveu apenas um mês de aluguel. Foi o próprio Sr. Barriga que deixou a dívida chegar a 14 meses.<br />
<br />
E matriculou Luiz em uma academia de Karatê, que por sorte, adorou as aulas. Pouco a pouco, Luiz foi se tornando um mestre da arte. Executava os katas com perfeição e era imbatível no kumitê.<br />
<br />
Seu futuro nas artes marciais era inevitável. Após conquistar a faixa preta no Shotokan, o próximo estágio foi aprender jiu-jitsu, arte que treinou com muita dedicação.<br />
<br />
Claro que existe talento envolvido, mas Luiz era fissurado no esporte. Treinava todos os dias, mesmo quando não tinha aula. Praticava mais de 100 vezes cada tipo de chute. Filmava a si mesmo fazendo os katas para aperfeiçoar os movimentos.<br />
<br />
Com a popularização do MMA, não deu outra: Luiz mostrou-se empolgado e investiu na carreira. É conhecido como o Impala Maldito.<br />
<br />
Ironias a parte, Luiz é gay. Ninguém acreditou quando ele assumiu sua orientação. A primeira luta após a "saída do armário" foi polêmica.<br />
<br />
Fábio "Pé-de-aríete" Johnson provocou bastante. A homofobia foi perfeitamente aceita como forma de intimidação. Gritou na coletiva e pesagem:<br />
<br />
— Esse viadinho pensa que vai me vencer? Eu vou destroçar esse cara! A bundinha dele vai até pedir mais de tanto que vou foder a vida dele! Isso aqui é esporte pra homem, cara!<br />
<br />
Luiz deu de ombros, beijou a palma da própria mão e assoprou o beijo para Fábio, que ficou emputecido. O adversário teve que ser segurado por sua equipe. Aquele drama todo. No fim, foi bom: toda essa cena chamou a atenção da imprensa.<br />
<br />
A luta teve uma boa cobertura da mídia. Dedicado como era, o resultado não poderia ser outro. Luiz venceu com um nocaute ainda no fim do primeiro round. Sua baixa estatura facilitou a desferir os socos em curta distância, que pegaram no queixo e têmporas de Fábio. O adversário chegou a convulsionar um pouquinho quando caiu desacordado no chão.<br />
<br />
Após a vitória, ainda no octógono, Luiz pegou o microfone e falou irônico:<br />
<br />
— Bom, e que fique sempre marcado na carreira dele: foi destruído pelo viadinho! Chupa! — e saiu do ringue.<br />
<br />
Na segunda seguinte, Luiz "Impala" era o grande assunto nas redes sociais, assim como o Nick Newell tinha sido meses antes.<br />
<br />
Inúmeros posts sobre homofobia foram publicados. Perguntavam: quem é macho de verdade?<br />
<br />
Luiz respondeu em seu Facebook: "Meu pai sempre me disse que era importante eu ser macho, lutar pelo que acredito até o fim e nunca deixar chegar aos '14 meses de aluguel'. Se é assim, eu acredito que sou o mais macho que existe. Estou invicto há 10 lutas, tive coragem de revelar minha homossexualidade no universo MMA e de apresentar meu namorado à toda minha família no reveillon. É o que sou e não tenho medo disso. Acho que todo mundo tem medo de aceitar o que é. Só que coragem não é ausência de medo. É agir apesar do medo.".<br />
<br />
O bum durou mais algumas semanas. A carreira do Impala continua. Sua luta também. Ele ainda é um dos seres humanos mais machos que já existiram, e não é porque luta MMA.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-39639260652088057372013-09-04T15:13:00.001-07:002013-09-04T15:13:19.943-07:00Dog person<object height="315" width="560"><param name="movie" value="//www.youtube.com/v/iMzgl0nFj3s?hl=pt_PT&version=3"></param>
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<br />
<br />
Embora eu goste muito de gatos, entendo que as pessoas me rotulem de "dog person".<br />
<br />
Invejo os cães. Nunca escondi isso. Acho que realmente temos muito o que <a href="http://blogoura.blogspot.com.br/2011/02/ensinamentos-da-panqueca.html" target="_blank">aprender com eles</a> e estou sempre tentando tirar lições ao observá-los.<br />
<br />
Faz meses que observo a relação de meus dois vira-latas, Barry White e Marvin Gaye.<br />
<br />
O Marvin chegou dois anos depois de termos adotado o Barry e a relação entre eles é muito engraçada.<br />
<br />
No começo, fiquei bem preocupado com as brigas. Confesso que não entendia os motivos. Não sei bem o que eles "conversam", nem que mensagens passam um ao outro.<br />
<br />
O ponto é que, no resto do tempo, eles se dão bem, brincam e relaxam juntos.<br />
<br />
Aí, veio a reflexão. A gente imagina que o relacionamento ideal é aquele tranquilo em que tudo dá certo, como nos grandes clichês das propagandas de margarina.<br />
<br />
Os cães me ensinam todos os dias que a crueza da realidade no mundo não é tão ruim quanto os humanos pintam. <br />
<br />
Fazendo a devida conversão, pessoas brigam. É inevitável.<br />
<br />
A lição aqui é a maneira como os cachorros lidam com isso. Alguns vão dizer que eles têm aquela felicidade exagerada porque são ignorantes. Eu discordo.<br />
<br />
Acho que cães são felizes por conta da relação deles com o tempo.<br />
<br />
Não importa que o Barry mordeu o pescoço do Marvin em algum momento da tarde de ontem e doeu. Eles vão brincar hoje e vão se divertir.<br />
<br />
O Barry não fica pensando se o Marvin vai roubar seu brinquedo amanhã. Ou se vai precisar dar uma mordida nele daqui a um mês.<br />
<br />
Nenhum deles fica se remoendo por algo ruim que aconteceu ou por preocupação com algo de ruim que pode estar por vir. Simplesmente vivem o presente.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOcBAiDyf8UhmuEyVIHPt1xbbtG3p5y2af4IEA_RPGxRjg-Y60_0ynIt_jwvecl-fdhiXtB5jBILJ71jQOnllmIEwHswcCTQz1v_s6Vr_QcnelNltkH2qSuq2fA0yowfa5OMPw6fwxeYPf/s1600/EatSurviveReproducePhilosophy.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="199" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOcBAiDyf8UhmuEyVIHPt1xbbtG3p5y2af4IEA_RPGxRjg-Y60_0ynIt_jwvecl-fdhiXtB5jBILJ71jQOnllmIEwHswcCTQz1v_s6Vr_QcnelNltkH2qSuq2fA0yowfa5OMPw6fwxeYPf/s320/EatSurviveReproducePhilosophy.jpg" width="320" /></a></div>
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Gato ou cão, já parou para imaginar o que você pode aprender com seu bicho de estimação? O que você acha que ele teria para te dizer? Qual conselho ele te daria? O que ele faria no seu lugar?<br />
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Imaginar essas respostas ajudam bastante no meu dia a dia.<br />
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Mesmo que a solução possa ser: "OLHA! UM ESQUILO!". Até dá para tirar uma lição importante. Questão de interpretação.<br />
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<br /><object height="315" width="420"><param name="movie" value="//www.youtube.com/v/OxYYPziLdR4?hl=pt_PT&version=3"></param>
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Faça o teste!Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5373363686007787089.post-3713338560330940352013-08-29T13:06:00.000-07:002013-08-29T13:24:03.922-07:00Nárnia?Rodrigo era motion designer em uma agência de publicidade online. Um cara descolado. Tinha em seu guarda-roupas 15 camisas xadrez de diversas cores. Era seu plano de emergência para ficar sem usar a máquina de lavar por uma quinzena e ainda assim, não repetir roupas no trabalho.<br />
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As calças jeans ele repetia. Mais de 3 vezes por semana. Não havia problemas. "Elas não sujam mesmo!" — dizia.<br />
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Passou a infância inteira em Araguari. Acabou herdando o delicioso sotaque da região.<br />
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Seu caminho na carreira de motion começou de maneira informal. Criava gifs engraçados. Utilizava o Photoshop para tentar fazer charges animadas e contar algumas histórias.<br />
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O pulo do gato veio quando, autodidata, aprendeu a usar o Flash, aos 16 anos.<br />
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Conto essa história porque, aos 17, por um acaso estranho do destino, conseguiu estágio em uma agência de publicidade aqui em São Paulo. A mesma em que trabalha até hoje, com 25.<br />
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Esses 8 anos no ramo, mesmo após algumas promoções simples, mas com praticamente o mesmo cargo e atividades, tornaram-se bem chatos.<br />
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Ok! O ambiente, clima e as pessoas são bem diferentes de empresas comuns, que Rodrigo chamava de "coxinhas".<br />
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No mundo das agências, tudo é muito divertido e espontâneo. Piadas, comentários do último vídeo da Porta dos Fundos ou sobre algum site inovador que pega seus dados no Facebook e faz montagens com as fotos dos seus amigos em animais dançantes, ao som de alguma sátira de "dumb ways to die".<br />
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Tem sempre alguma coisa nova rolando nos papos. O problema era a disputa diária para ver quem sabia mais das inovações que surgiam.<br />
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— Você viu o aplicativo novo da Diesel? NÃO VIU? Não acredito! Vou te mandar o link para baixar! É muito louco, cara! Muito louco!<br />
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Rodrigo percebeu que uma das coisas mais prazerosas de sua vida era responder "Ah! Eu já tinha visto!" a esse tipo de pergunta. Foi aí que começou a pensar mais sobre o futuro que queria para sua carreira.<br />
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Um dia, recebeu em seu e-mail mais uma série de ofertas do Peixe Urbano. Antes, deletava essas mensagens sem ao menos ler, mas dessa vez, resolveu dar uma olhada.<br />
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— Um curso intensivo de sapateado por 250 reais! Uma semana, todos os dias e em período integral, das 8h30 às 18h30.<br />
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Comprou na hora. Rodrigo era fã de Gene Kelly. Toda vez que garoava em São Paulo, "Singin' in the rain" tocava em sua cabeça automaticamente.<br />
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Decidira fazer o curso. Mas o que ele iria falar para seus chefes? Durante o fim de semana, depois de algum tempo refletindo, optaria pelo mais irônico.<br />
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E na segunda de manhã, telefonou para o tráfego da agência:<br />
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— Alô? Oi! Tudo bem? Olha só, eu torci o tornozelo ontem... Vou ter que ficar em casa de molho essa semana.<br />
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Para ter um bom álibi, publicou no Facebook a foto de algum pé com gesso. Só teve o trabalho de procurar nas imagens no Google e colocar a legenda: "De molho em casa :(".<br />
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Deu tudo certo no curso. Aprendeu os fundamentos, comprou os sapatos, conheceu a história da arte e treinou exaustivamente em casa. Descobriu que tinha talento. Fantasiou a semana inteira sobre como seria sua vida se conseguisse dedicar mais tempo à atividade.<br />
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Tantos sonhos fizeram o tempo passar rápido. Logo chegou a sexta-feira e na segunda seguinte, voltaria para a agência e sua vida normal.<br />
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Foi o que aconteceu. Os sonhos foram praticamente esquecidos enquanto usava sua brilhante criatividade artística para replicar os banners que surgiam em sua pauta de trabalho. Alguns atrasados da semana anterior.<br />
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Com tantos trabalhos para por em dia, essa semana também passou rápido.<br />
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Toda a equipe de criação resolveu fazer um happy hour para aproveitar a noite, que estava quente e agradável.<br />
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Fecharam uma garrafa de cachaça. Mesmo beliscando diversas porções de provolone e parmesão, depois de algumas doses, Rodrigo não conseguiu se segurar.<br />
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O álcool tinha diluído sua vergonha e ele começou a sapatear ao som de Anunciação do Alceu Valença. Fazia mãos de musicais de jazz, rodava com os joelhos no chão e ia até o banheiro andando de lado, tirando e colocando na cabeça uma cartola imaginária.<br />
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Desde esse dia, Rodrigo passou a ser conhecido pelo apelido de Nárnia: a cachaça, o queijo e o sapateado.Wilhttp://www.blogger.com/profile/13293417155119425775noreply@blogger.com0