segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Testosterona

Luiz é um quase famoso lutador de MMA, conhecido apenas por alguns entusiastas do esporte.

Continua invicto no circuito que participa. O cara é faixa preta 5º dan em Karatê Shotokan, Jiu-jitsu e treinara alguns anos de Hap-ki-do.

Luiz sempre foi baixinho e seu pai sempre lhe deu o mesmo conselho para evitar que tivesse problemas com bullies:

— Se alguém aprontar alguma coisa com você, revide logo na primeira vez. Lembra o Sr. Barriga? Em algum momento, o Seu Madruga deveu apenas um mês de aluguel. Foi o próprio Sr. Barriga que deixou a dívida chegar a 14 meses.

E matriculou Luiz em uma academia de Karatê, que por sorte, adorou as aulas. Pouco a pouco, Luiz foi se tornando um mestre da arte. Executava os katas com perfeição e era imbatível no kumitê.

Seu futuro nas artes marciais era inevitável. Após conquistar a faixa preta no Shotokan, o próximo estágio foi aprender jiu-jitsu, arte que treinou com muita dedicação.

Claro que existe talento envolvido, mas Luiz era fissurado no esporte. Treinava todos os dias, mesmo quando não tinha aula. Praticava mais de 100 vezes cada tipo de chute. Filmava a si mesmo fazendo os katas para aperfeiçoar os movimentos.

Com a popularização do MMA, não deu outra: Luiz mostrou-se empolgado e investiu na carreira. É conhecido como o Impala Maldito.

Ironias a parte, Luiz é gay. Ninguém acreditou quando ele assumiu sua orientação. A primeira luta após a "saída do armário" foi polêmica.

Fábio "Pé-de-aríete" Johnson provocou bastante. A homofobia foi perfeitamente aceita como forma de intimidação. Gritou na coletiva e pesagem:

— Esse viadinho pensa que vai me vencer? Eu vou destroçar esse cara! A bundinha dele vai até pedir mais de tanto que vou foder a vida dele! Isso aqui é esporte pra homem, cara!

Luiz deu de ombros, beijou a palma da própria mão e assoprou o beijo para Fábio, que ficou emputecido. O adversário teve que ser segurado por sua equipe. Aquele drama todo. No fim, foi bom: toda essa cena chamou a atenção da imprensa.

A luta teve uma boa cobertura da mídia. Dedicado como era, o resultado não poderia ser outro. Luiz venceu com um nocaute ainda no fim do primeiro round. Sua baixa estatura facilitou a desferir os socos em curta distância, que pegaram no queixo e têmporas de Fábio. O adversário chegou a convulsionar um pouquinho quando caiu desacordado no chão.

Após a vitória, ainda no octógono, Luiz pegou o microfone e falou irônico:

— Bom, e que fique sempre marcado na carreira dele: foi destruído pelo viadinho! Chupa! — e saiu do ringue.

Na segunda seguinte, Luiz "Impala" era o grande assunto nas redes sociais, assim como o Nick Newell tinha sido meses antes.

Inúmeros posts sobre homofobia foram publicados. Perguntavam: quem é macho de verdade?

Luiz respondeu em seu Facebook: "Meu pai sempre me disse que era importante eu ser macho, lutar pelo que acredito até o fim e nunca deixar chegar aos '14 meses de aluguel'. Se é assim, eu acredito que sou o mais macho que existe. Estou invicto há 10 lutas, tive coragem de revelar minha homossexualidade no universo MMA e de apresentar meu namorado à toda minha família no reveillon. É o que sou e não tenho medo disso. Acho que todo mundo tem medo de aceitar o que é. Só que coragem não é ausência de medo. É agir apesar do medo.".

O bum durou mais algumas semanas. A carreira do Impala continua. Sua luta também. Ele ainda é um dos seres humanos mais machos que já existiram, e não é porque luta MMA.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dog person



Embora eu goste muito de gatos, entendo que as pessoas me rotulem de "dog person".

Invejo os cães. Nunca escondi isso. Acho que realmente temos muito o que aprender com eles e estou sempre tentando tirar lições ao observá-los.

Faz meses que observo a relação de meus dois vira-latas, Barry White e Marvin Gaye.

O Marvin chegou dois anos depois de termos adotado o Barry e a relação entre eles é muito engraçada.

No começo, fiquei bem preocupado com as brigas. Confesso que não entendia os motivos. Não sei bem o que eles "conversam", nem que mensagens passam um ao outro.

O ponto é que, no resto do tempo, eles se dão bem, brincam e relaxam juntos.

Aí, veio a reflexão. A gente imagina que o relacionamento ideal é aquele tranquilo em que tudo dá certo, como nos grandes clichês das propagandas de margarina.

Os cães me ensinam todos os dias que a crueza da realidade no mundo não é tão ruim quanto os humanos pintam.

Fazendo a devida conversão, pessoas brigam. É inevitável.

A lição aqui é a maneira como os cachorros lidam com isso. Alguns vão dizer que eles têm aquela felicidade exagerada porque são ignorantes. Eu discordo.

Acho que cães são felizes por conta da relação deles com o tempo.

Não importa que o Barry mordeu o pescoço do Marvin em algum momento da tarde de ontem e doeu. Eles vão brincar hoje e vão se divertir.

O Barry não fica pensando se o Marvin vai roubar seu brinquedo amanhã. Ou se vai precisar dar uma mordida nele daqui a um mês.

Nenhum deles fica se remoendo por algo ruim que aconteceu ou por preocupação com algo de ruim que pode estar por vir. Simplesmente vivem o presente.



Gato ou cão, já parou para imaginar o que você pode aprender com seu bicho de estimação? O que você acha que ele teria para te dizer? Qual conselho ele te daria? O que ele faria no seu lugar?

Imaginar essas respostas ajudam bastante no meu dia a dia.

Mesmo que a solução possa ser: "OLHA! UM ESQUILO!". Até dá para tirar uma lição importante. Questão de interpretação.




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