quinta-feira, 10 de julho de 2014

Ansiedade



Era uma sexta-feira qualquer. Estava entediado de pé em um metrô lotado tentando enviar um arquivo via WhatsApp para alguém. Não me lembro quem.

Falhou.

Novamente.

De novo.

Respirei fundo e desisti. Esperaria voltar à superfície da civilização para fazer isso sem me estressar.

Fiquei pensando. Não é por nada que as pessoas ficam estressadas em São Paulo. Aqui, te prometem uma cidade que oferece yakissobas e caldinho de mocotó às 3h da madrugada. A maioria das coisas 24 horas por dia.

E você acredita nisso.

Aí, acaba morando por aqui com essa expectativa.

Como é impossível saber onde começa o círculo vicioso, vamos escolher qualquer situação como ponto de partida.

O cara já vem para São Paulo porque é ansioso. Quer tudo na hora. Quer o tal caldinho de mocotó às 3h da manhã. Admira isso numa grande metrópole.

Já faz alguns anos que vive aqui e ele nunca pediu o tal caldinho. No máximo, foi ao Chico Hambúrguer 24 horas após uma balada.

O sujeito comprou um Punto Jet porque sempre soube que o transporte público da cidade é horrível, porém, começa a pegar um engarrafamento matador todos os dias.

Depois que viaja para Nova York, passa a admirar toda a malha de metrô da cidade e resolve aproveitar melhor o que tem em Sampa.

De repente, seu imediatismo ansioso, que já estava sendo duramente testado nos longos engarrafamentos provocados por motoboys que acham que dirigem ônibus e motoristas de ônibus que pensam que pilotam motos, é golpeado.

Já não adiantava costurar entre as faixas, ultrapassar pela direita ou dar uma escapada pelo corredor de ônibus. Enquanto ficava parado, via as mensagens dos grupos do WhatsApp e Facebook. Quando conseguia, ligava para alguém, só para ter com quem conversar.

No metrô, tudo piorou. Além das paradas operacionais, objetos na via e tentativas de suicídio, nesses momentos o sinal da Vivo também vive caindo.

Nada de 3G. Nada de Wi-fi. Reclamava que o Facebook era 50% pessoas felizes e 50% pessoas que se autointitularam formadores de opinião, mas naquela altura, sentia falta até desses posts.

No trabalho, ligava para seus colegas para ver se tinham recebido o e-mail.

Nas conversas de corredor, reclamava que as atualizações de sistema do PS3 demoravam muito tempo, embora levassem, no máximo, 10 minutos para acabar.

Enquanto o Windows ou qualquer outro software carregava, jogava Candy Crush. Mesmo que fosse só por alguns segundos.

Não utilizava mais Sedex para enviar qualquer coisa. Tinha que contratar um motoboy para ser mais rápido.

Enfim. Alguém ansioso quer tudo na hora. Surgem ferramentas que oferecem rapidez. Acontecem falhas diversas. Vem a frustração. Resultado: mais ansiedade.

Se a preguiça move a evolução, a ansiedade move a tecnologia.

São Paulo atrai porque tem tudo, só que ao mesmo tempo, nada funciona.

A gente contrata um pacote motherfucker na operadora de celular. Só que ficamos sem sinal em um monte de lugares.

Com 200 minutos no plano, a frase mais ouvida/falada é: "A ligação está falhando!".

Pega o Metrô para escapar do trânsito e não entra no vagão porque a estação está lotada.

Compra um carro 8.0 que é tão rápido quanto uma diarreia, e fica preso imóvel na 23 de maio.

Assina um pacote de internet banda larga em casa com 10 mega/segundo e a conexão é instável e a velocidade oficial é de 200 kb.

Contrata um motoboy para entregar as coisas rápido, mas depois sofre com a confusão que alguns deles causam nas avenidas.

Mas o caldinho de mocotó...  Esse você consegue às 3h da manhã. Às vezes.