domingo, 28 de outubro de 2012

Who cares?


Ontem, estava em uma churrascaria com alguns amigos. Um reencontro típico, com todas as intermináveis besteiras e idiotices que falamos para nos entreter.

Quando já estávamos no estágio da gula, satisfeitos com o que já tínhamos comido porém, ainda aceitando novos pedaços de fraldinha, costela e picanha, um fato no salão do lado chamou nossa atenção.

Um enorme grupo de pessoas chegava nessa ala fechada da churrascaria para uma festa de casamento. Sorrisos, falas e gritarias indistintas, além de toda aquela série de clichês.

Da nossa mesa, não demos muita bola para as festividades, até que chegou a hora de um dos clichês mais interessantes: o arremesso do buquê.

A namorada de um dos meus amigos, única mulher presente na mesa, comentou que ela acha esse momento muito constrangedor. Quando os bêbados da festa gritam “Encalhadas!” e algumas solteiras viram gladiadoras sanguinárias para capturar o ramalhete voador.

Depois de mais alguns comentários observando o evento, comecei a viajar e pensar na situação, no Facebook, nas minhas opiniões, convicções, na vida dos outros e a importância da tecla Foda-se em nossos cérebros.

Sobre a situação, pensei: “Foda-se! Qual o problema? Deixe as mulheres do casamento serem felizes e se divertirem. Por que eu estou aqui sendo ácido e criticando? Quantas coisas eu deixo de fazer porque imagino que as outras pessoas acham ridículo?”.

Sobre o Facebook, lembrei da seguinte tirinha dos Malvados:




Depois pensei: “Foda-se! Odeio gente que caga regra. Não quer ler o que o outro posta? Cancela a assinatura. Já fiz isso com várias pessoas que publicavam e compartilhavam conteúdos que não me agradavam.”

A rápida maré de pensamentos me levou a pensar no quanto eu deixo de curtir vários momentos por conta de algumas convicções e indignações. Em geral, elas são imbecis. Se quiser, mantenha as suas, mas estou tentando me livrar das minhas.

Por exemplo: acho ridículo que em tempos atuais, as pessoas ainda busquem pedigree e comprem cachorros e gatos com tantos animais abandonados precisando de um lar. Fiquei puto com a hipocrisia dos “ativistas de Facebook” por eu ter recebido uma caralhada de ligações e e-mails quando achei um Lhasa Apso perdido e absolutamente nenhuma quando anunciei um cãozinho de rua para adoção.

Foda-se! Vou deixar de brincar com o cachorro de um amigo por conta disso? Passar um sermão nele? Isso que é ridículo.

Odeio música sertaneja, dance music, axé, funk carioca, entre outros. Fecho a cara quando esse lixo toca no mesmo lugar que eu estou. Antes, ficava emputecido por conhecer gente que realmente gosta desses estilos. Depois, tentei achar explicações racionais para tentar entender a cabeça estranha dessas pessoas.

Hoje? Foda-se! Ainda posso ficar de mau humor quando alguém ouve isso perto de mim, mas se estiver numa festa e rolar esse tipo de som, vou dançar, pular, rir e não xingar. Confesso que isso ainda é bem difícil, mas estou evoluindo.


Enfim, foda-se tudo isso. Foda-se esse texto. Fodam-se todos os ativistas partidários, politicamente corretos, revoltados e pequenas autoridades de Facebook. O que eu quero é me divertir.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Hellmann’s Airlines

Quando eu estava no primeiro ano da faculdade, um professor disse que todos da minha geração eram muito jovens para fazer o curso de Psicologia.

Na época, não dei muita bola. Hoje, depois de passar um tempo de fora da área, percebi que tem certas coisas que a faculdade não ensina.

Foi necessário sair da área, respirar novos ares, conhecer pessoas e viver diferentes situações.

1 -  Bom senso.
Mesmo no 5º ano, alguns alunos reclamaram que não utilizávamos técnicas durante os atendimentos na clínica-escola. Fica a pergunta: será que, naqueles casos específicos, era necessário aplicar alguma técnica?

Assim como na música, ou outras áreas, a teoria é uma ferramenta, não a atividade em si.
Um guitarrista deve tocar música apenas para usar suas técnicas ou estuda as técnicas para tocar melhor suas músicas?
Atingir a maturidade do bom senso é tão importante quanto o conhecimento teórico?


2 - Desculpas.

Quando alguém não quer fazer algo, a criatividade para desculpas é infinita. Cabe até um estudo das capacidades do cérebro humano.


3 - Tempo.

Um tema intimamente relacionado ao tópico anterior. Com milhares de livros de auto-ajuda, textos compartilhados nas redes sociais, palestras e treinamento de desenvolvimento e administração do tempo, as pessoas ainda insistem em dizer que deixam de fazer algo por falta de tempo. Por que será que elas não assumem que priorizam e dão preferência a algumas atividades por puro interesse pessoal?


4 - Explicações não solicitadas.

Quando alguém começa a falar uma série de justificativas e explicações da própria personalidade que não foram pedidas por nenhum dos integrantes da conversa, fica a pergunta engatilhada: “quem você está tentando convencer? A mim ou você mesmo?”.


5 -  O que sou X o que faço.

Muita gente se define, primeiramente, pela profissão ou formação acadêmica. Isso é estranho, não? As pessoas se resumem apenas ao que elas fazem?
Ainda não descobri se esta é a definição mais fácil ou se simplesmente não nos interessa descobrir quem somos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vacinação em Entrevistas de Emprego


A experiência faz você observar mais os fatos e tirar algumas conclusões.

Ao conhecer e passar por diversas empresas, grandes e pequenas, você pode pensar que apenas o seu mercado de trabalho é ruim.

Não é bem assim.


Depois de conversar com um amigo que teve metade do cachê roubado pelo próprio agente, outro que tem uma batalha diária contra os calotes dos clientes, é fácil concluir que há filhos da puta em todas as áreas.

Portanto, a presença de um filho da puta deixa de ser um critério de escolha ao avaliar seu próximo destino. Algum certamente estará lá.

Aliás, está cada vez mais difícil tomar uma decisão. Da mesma maneira que todos os smartphones imitam o iPhone, todas as empresas parecem iguais.

Por exemplo, um fato comum entre todas é que, sempre quando vão propor um salário menor que o desejado, os entrevistadores falam:

- Olha, o salário é menor, mas aqui, você vai ter um carimbo na carteira de trabalho da Mother Fucking Big Corporation. Imagine isso no seu currículo.

Ou no caso de uma empresa pequena:

- Olha, o salário é menor do que você está pedindo. Mas veja que grande oportunidade! Você vai poder crescer junto com a gente!

Na primeira vez que ouve um discurso assim, você acredita com empolgação.

Tempos depois, só acredita com um pé atrás.

Aos 30 e com conhecimento empírico, tudo que vem à mente é a seguinte cena:

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mundos



Todos os anos, a cada Virada Cultural, eu ouço comentários contra o evento. 

“Ai... É muita gente!”

“Meu amigo foi assaltado lá!”

“Você viu que morreu uma pessoa?”

“Está rolando o vinho químico e um monte de brigas por lá!”

“Ai... Estava no Metrô, vi que era muita gente e desisti...”

Até comentei com uma amiga: “Caraca! Eu devo viver no mundo da Coca-Cola, porque faz uns 7 anos que vou direto e nunca me aconteceu nada”.

Otimistas e pessimistas. Todos acham que são realistas.

Isso me fez pensar em outro assunto: o auto-engano.

É impossível dizer o que é a realidade. Sempre teremos uma percepção, próxima ou não, do que as coisas são.



No que diz respeito ao auto-conhecimento, nossa percepção pode ser ainda mais discrepante. Em geral, sabemos muito pouco sobre nós mesmos, até porque não queremos saber.

Aí, criamos um mundo próprio e personalizado para viver. Fiel a realidade? Nunca poderemos dizer.

A não ser que você tenha plena consciência de que o frio não existe, por exemplo. Que são só seus neurotransmissores passando uma informação ao cérebro.

Ou ao chutar uma mesinha de centro descalço, você pense convicto: “se eu não tivesse um cérebro, não sentiria dor. Logo, isso não é nada.”

E que um por do sol ou uma praia são a mesma paisagem monótona em qualquer lugar do mundo. Achar bonito ou feio é apenas outra mensagem entre suas sinapses.

Diferentes visões, julgamentos, percepções, sensações. Se cada um de nós cria o mundo em que vive e a ilusão não é prazerosa ou satisfatória, é mais fácil inventar um mundo novo. 

Acho que psicoterapia pode ajudar nessa tarefa.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Espelhos



Há alguns anos, participei de uma dinâmica de grupo na faculdade.

Tínhamos que escrever nossas características, positivas e negativas, em etiquetas adesivas.

Depois, ao som de uma música qualquer e em movimentação aleatória pela sala de aula, colaríamos as mesmas etiquetas em nossos colegas.

Que eu me lembre, o objetivo do exercício era mostrar alguns traços da própria personalidade e encontrar, em outra pessoa, algo similar.

Duas das minhas etiquetas ficaram registradas na memória até hoje. Uma dizia “egoísta” e a outra “preguiçoso”.

Em doses moderadas, o egoísmo é bom. É importante que cada um olhe para o próprio umbigo de vez em quando. Porém, em geral, a palavra tem conotação bem negativa.

Já a preguiça, apesar de ser uma delícia, também carrega um estigma ruim.

Ao fim da atividade, cada participante faria comentários das rotulações que receberam dos colegas.

A menina que recebeu “egoísta” falou, com lágrimas nos olhos, o quanto ela fazia questão de ajudar os outros, e receber tal adjetivo era uma grande injustiça. Momento de tensão no ar.

Outra colega também ficou indignada ao ser chamada de “preguiçosa”, e tendo o apoio de uma amiga, discursou sobre o quanto ela trabalhava durante o dia para ainda encarar a faculdade.

Confesso: eu não esperava que as minhas etiquetas seriam motivo de tanta polêmica.

No dia, fiquei em silêncio e até acanhado. Hoje, como num pop-up, a cena voltou na cabeça e pensei: se aquela característica era tão discrepante em relação a personalidade delas, por que será que incomodou tanto?

Será que enfiei uma bituca de cigarro em uma ferida aberta e girei?

O que incomoda é o que não gostamos em nós mesmos e preferimos nem pensar?

O que não gostamos no outro é justamente o que não temos coragem de assumir que somos ou fazemos?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Análise de aparências no comportamento de grupo: reuniões de processo

Em uma série de situações grupais, é possível observar um padrão de comportamentos.

Há tempos que percebi e confirmei que, reuniões com o intuito de tomada de decisão frente a algo que não está correndo bem, são absolutamente inúteis. Perda de tempo.

Tudo corre em 10 etapas.

1 - Discurso introdutório da reunião semelhante a um culto. “Pessoal, chamei vocês nessa reunião para...”

2 - Primeiras considerações do participante com anotações prévias, que marca em um checklist todos os temas que gostaria de abordar.

3 - Exaltação. Alguém não aprova ou se sente ofendido.

4 - Stress. Discussão em alto volume.

5 - Frase de efeito: “Calma, gente! vamos parar com isso. Precisamos focar no que vai resolver!”

6 - Ânimos se acalmam com a mudança de assunto.

7 - Surge sugestão utópica.

8 - Momento de união e concordância com a ideia que resolverá os problemas.

9 - Empolgação ao discorrer as possíveis consequências da mágica solução.

10 - Fim súbito da reunião, pois outras demandas exigem a atenção dos profissionais.

Um detalhe interessante é que os passos 3, 4, 5 e 6 podem formar um ciclo, ou looping, que ocupa boa parte do evento, conforme abaixo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Daqui de fora

Estou, há quase cinco anos, fora do mercado da Psicologia.

Meu número de CRP está inativo, mas o interesse pela área sempre correu junto comigo. Por leituras, pesquisas ou mesmo longas conversas com meus amigos e colegas de formação.

Hoje, vejo que eu era inexperiente demais no ano em que me formei. Experiência de vida também conta muito para um bom trabalho do psicólogo, e não apenas competência teórica e técnica. É a diferença entre conhecer a vida por livros e viver de verdade.

Esse fator “vida” faz com que você desenvolva mais empatia, que é essencial na Psicologia moderna.

Outro fator interessante é que passei a entender que os seres humanos não nascem com manual de instrução. Pensar dessa maneira me fez rotular menos. DSM’s e CID’s são excelentes auxiliares diagnósticos, mas os profissionais têm a mania de definir seus clientes pela enfermidade que carregam.

Esse excesso de diagnósticos, ramificações e subtipos criaram um efeito que alguém chamou brilhantemente de “Normalopatia”. Em resumo, um conceito de que existe um padrão de pessoas normais, livres de supostas doenças psicológicas.

Nesse sentido, a sublimação do Freud é um mecanismo de defesa extremamente útil para as pessoas seguirem com suas vidas. Fulano tem TOC de limpeza e foi trabalhar na vigilância sanitária. O sádico Ciclano, em vez de espancar pessoas nas ruas, seguiu uma brilhante e “prazerosa” carreira no UFC.

No fim, é esse o nosso papel como profissionais: ajudar o cliente, seja empresa, pessoa ou qualquer outro grupo, a seguir com sua vida e correr atrás de seus objetivos.

Infelizmente, essa ajuda é quase “passiva”, e na minha neurose, fico muito frustrado. Se o cliente não quiser ser ajudado, nosso trabalho parece ser em vão. Seria apenas mais uma função: eu finjo que presto um serviço e você finge que aproveita.

Tem que querer sair de casa sem a ajuda de antidepressivos.

Tem que querer manter o controle frente a pensamentos irracionais.

Tem que querer entender que somos responsáveis por tudo que acontece na nossa vida e que nossas escolhas têm consequências, agradáveis ou não.

Tem que querer se livrar do que supostamente incomoda.

Frente a essa quase “passividade” do psicólogo, vejo que minha volta ao mercado da Psicologia é muito difícil. Talvez seja um ponto importante para resolver em psicoterapia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Trintão cansado

Este blog mudou de cara.

Troquei o layout e apaguei todas as postagens antigas. Deixei apenas as de 2011.

Por que fiz isso? Bom. As ideias mudaram. A cabeça mudou.

Posso dizer que cheguei aos 30 anos e cansei.

Cansei de me irritar com assuntos que estão além do meu controle.

Cansei de me meter em questões polêmicas do mundo, só para mostrar minha opinião. Tanto em bares quanto em redes sociais.

Cansei de tentar convencer, provar, defender e explicar para as pessoas o que eu acho legal. Gosto é realmente igual ao cu, e sendo bom ou sendo mau, cada um tem o seu. E foda-se.

Cansei de justificar o inútil e mostrar meu melhor lado para quem não se importa e/ou para quem eu não dou a mínima.

Cansei de me sentir vencedor em momentos que não fazem a menor diferença na vida.

Cansei de falar de política. Não entendo porra nenhuma. Só sei que está uma merda e que não tenho a menor ideia do que fazer para mudar alguma coisa. Se alguém souber e precisar de ajuda, pode me chamar.

Cansei de brigar e me estressar por causa de futebol. Nenhum daqueles milionários paga as minhas contas.

Cansei da mania paulistana de orgulhosamente contar histórias sobre excesso de trabalho e horas-extras mal pagas.

Cansei de me comparar com quem acho que esteja melhor ou pior do que eu. Cada um na sua.

Cansei de leituras, filmes, lugares e momentos “obrigatórios”.

Para encerrar, cansei de me eximir da responsabilidade da minha vida.