quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Não imagine que te quero mal...
— Você anda muito "zen" ultimamente. Está me assustando.
— Hein? Eu? Por quê?
— Sei lá! Começou com aquela história que rancor dá câncer. Que é um veneno que você toma esperando que o outro morra.
— E daí?
— Você mesmo dizia que pessoas não mudam! Igual ao House!
— Ainda concordo com isso!
— Mas você mudou.
— Mudei nada! Continuo achando que pessoas não mudam. O que acontece é que às vezes, elas passam a enxergar outras coisas.
— Como assim?
— Por exemplo, eu continuo explosivo e fico muito puto em algumas situações, mas não são os mesmos motivos de antes que me tiram do sério.
— Me dá um exemplo.
— Antes, pessoas lerdas no trânsito me deixavam muito puto. Sabe? Quando elas andam devagarinho para depois estacionarem ou fazerem uma conversão à direita?
— Aargh! Isso irrita!
— Então. Antes de ficar nervoso, eu penso se a pessoa não está perdida, ou se é nova no volante, ou mesmo no tempo que eu realmente estou perdendo para chegar aonde preciso. Alguns minutos de atraso vão me prejudicar tanto assim? Mas por exemplo, quando o semáforo acabou de abrir e um babaca buzina em menos de 2 segundos me apressando, aí eu fico louco. Saio com o carro a 10 km\h só pra atrasar o bosta.
— Entendi.
— De qualquer maneira, essa pessoa que buzinou pode estar com pressa. Vai saber se ela tem algum parente no hospital, ou está com diarreia... A gente nunca sabe. Pode até ser que ela seja só alguém frustrado e infeliz que não teve um bom dia. Por isso, queria me reeducar para não ficar tão nervoso nessas situações.
— Interessante...
— Estou me policiando para sempre ver o lado bom de tudo. Não focar no lado ruim.
— Mesmo das pessoas?
— Sim.
— Mesmo daquele seu chefe que você odiava? Lembra? Aquele que reprovava seus trabalhos e mostrava a versão dele dizendo que tinha feito em 5 minutinhos?
— Mesmo ele. Nesses 5 minutinhos ele fazia um trampo tão bosta quanto o que eu tinha feito.
— Sinto um ódio aí...
— Olha, eu ficava muito puto. Ele podia ser um chefe escroto, mas era só uma deficiência dele em lidar com pessoas ou liderança. Sinceramente, é melhor que ele saia logo daquele cargo para ser feliz de verdade em outro lugar.
— E aquele outro cara que combinava as coisas com você e mandava um e-mail ou escrevia no sistema o contrário para documentar e oficializar as coisas do jeito que ele queria?
— Olha... Analisando bem, ele era um outro frustrado. Mal sabia escrever direito, estava estagnado na posição dele e, nas duas vezes que os chefes dele saíram, o cara tinha as esperanças de subir de cargo exterminadas. Nunca ganhava uma promoção. Sempre aparecia um chefe novo.
— E aqueles vizinhos que começaram a implicar com o barulho no condomínio?
— Bom. Esses aí me irritam mais porque estão mais perto de mim. São vizinhos. A gente tem que conviver na área comum. Esses eu ainda tenho dificuldade para ver o lado bom. O velho me serve de mau exemplo: só desejo envelhecer e não me tornar um ser insuportável igual a ele. Dos outros, não quero nada. Só que não me dirijam a palavra.
— Aaah! Então você não gosta deles! Guarda rancor!
— Pode até ser. Mas prefiro seguir a música do Lulu Santos: "não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais". Não vou brigar, atropelar, discutir, implicar, desejar mal ou pensar com ódio. Só não quero mais contato. Só isso. Quero que eles sejam felizes, porque gente feliz não enche o saco. É essa a conclusão: não procuro mais encheção de saco na minha vida.
— Está se reeducando?
— Isso mesmo.
— Seguindo o seu pensamento, você não quer contato, mas se alguns deles estiver precisando de alguma coisa, você ajudaria?
— Claro!
— Ajudaria a carregar um peso? Consertar o carro? Emprestaria uma ferramenta?
— Na verdade, eu mijaria na cara deles se ela estivesse pegando fogo.
— ...
— O que foi?
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