Respira fundo!
Acho que essa é a instrução de todo mundo que chega à plataforma do metrô e percebe que ela está lotada. Abarrotada de gente. É um auto-comando apaziguador de desespero.
O suspiro é ainda mais longo quando é segunda-feira, e você já está atrasado para o trabalho.
Mau humor, frio, pressa, garoa, sono, fome e mau hálito típico do estômago vazio. Tantas delícias que se alternam entre as segundas, mas que às vezes, resolvem se unir para castigar as pessoas em um combo único e devastador. Todas no mesmo dia. Todas ainda na parte da manhã.
E foi assim no dia 18 de março de 2013.
O cara desceu as escadas rolantes pela esquerda, correndo. Viu de lá de cima que o trem estava parando. Entre uma cotovelada e outra, resmungou com a suposta falta de educação dos que estavam na escada e que não saíam da frente. Por fim, chegou à plataforma.
Havia uma fila desordenada, mas o trem ainda estava abrindo as portas.
Como uma peça de Tetris, ele conseguiu se encaixar no espaço disponível do vagão.
Infelizmente, metade de sua bunda não entrou no trem. Quando ouviu a campainha, o sujeito se contraiu inteiro, mas isso não impediu que suas nádegas atrapalhassem o fechamento das portas.
O beliscão doeu e as portas se abriram novamente.
Eis que surgiu a voz nas caixas de som:
– Não segurem as portas do trem! Essa prática atrasa a viagem de todos.
Por um curto intervalo, o vagão continuou aberto, e enquanto soava o aviso sonoro, outro magrelo conseguiu forçar sua entrada no trem. Só que ele não era magro o suficiente e as portas fecharam em sua mochila.
Com mais um impedimento, tudo voltou à estaca zero. Lá veio a voz de novo:
– Senhores usuários, não segurem as portas. Essa prática atrasa o funcionamento de TODOS os trens. Respeite!
Burburinho. Falas, reclamações e bufadas indistintas. Os passageiros se arranjavam como podiam. Uma senhora, que não tinha como chegar ao assento azul de idosos, se equilibrava com a pressão dos empurrões, mas quando levantou seu pé, não conseguia mais abaixá-lo. Ficou de saci.
Aviso sonoro. As portas começaram a se fechar. As pessoas olharam apreensivas para ver se finalmente poderiam partir.
Que nada!
– NÃO SEGUREM AS PORTAS! – gritou o maquinista, já perdendo as estribeiras.
Mais uma tentativa. Alguns passageiros já estavam com os rostos colados, como no mais romântico dos bailinhos da década de 90. Os baixinhos se encaixavam anatomicamente nos sovacos dos mais altos. Havia desconforto até mesmo para quem estava sentado: para onde quer que olhassem, veriam um mix de bundas e virilhas na altura dos olhos.
Não deu. O trem continuou parado e o maquinista se irritou de vez. Gritou nos alto-falantes:
– É isso, bando de filho da puta! Eu só tenho que conduzir esta merda até o Tucuruvi e não tenho horário para chegar lá. Ficando aqui ou partindo, meu trabalho é esse. Fodam-se os outros trens. Nós só vamos sair quando chutarem o corno que está impedindo o fechamento das portas. Já tá todo mundo atrasado mesmo, ninguém aqui tem o tempo mais importante que o dos outros e a pressa é inimiga da educação, não é mesmo? E aí? O que querem fazer? Estou desligando o trem!
E o fez. Silêncio, luzes apagadas e ar-condicionado desligado. As pessoas se olharam. Lembraram imediatamente do primeiro cara que ficou com o rabo preso e do outro magrelo com a mochila.
Foi então que começou a revolução. Seis passageiros, quatro homens e duas mulheres, empurraram os dois caras do vagão e saíram para a plataforma. Tinham enlouquecido. Entitularam-se os Power Rangers da Linha 1.
Fizeram um trabalho de pente fino pela estação. Encontraram celulares que tocavam funk sem fones de ouvido, jogaram no chão e pisaram.
O grupo fez pose de combate e se dividiu. Cada um entrou em um vagão. Encoxadores, dorminhocos jovens no assento preferencial e mais funkeiros foram retirados do trem e colocados na plataforma.
As pessoas que chegavam naquele momento ficavam intimidadas de ver a cena, e educadamente, se posicionavam no fim da fila de entrada para o trem.
Vitória. Desde aquele dia, o maquinista ficou conhecido como Zórdon.
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