Era seu primeiro dia de estágio.
Tinha altas expectativas. Durante a entrevista, o coordenador de criação disse que ele teria um grande aprendizado. Supervisão com profissionais renomados e premiados no mercado. A prateleira da sala de reunião tinha alguns leões de Cannes, entre outros troféus, como Prêmio Abril, El Ojo e Caborés.
— Preciso me preparar. Quero me enturmar logo, fazer contatos e aumentar meu networking. Já atualizei e tirei uma foto legal para colocar no Linkedin e fiz uma limpa dos meus posts do Facebook. Agora, preciso ver se minha pesquisa e treinamento deram certo! — estabeleceu como meta para si mesmo.
O treinamento em questão consistia em ler o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas" e tentar parecer o cara mais descolado possível. Foi a característica que usou para definir seus futuros colegas publicitários.
Baixou a discografia completa do Muse, Strokes, Mumford and Sons e 30 Seconds to mars. Descobriu que The Killers e Foo Fighters eram clássicos. Lera que, quem gostava de rock, teria mais chances de prosperar no mundo das agências. Ao mesmo tempo, não podia ser qualquer banda. Tinham que ser aquelas que foram fabricadas para ser alternativas. Aquelas que seus colegas diriam que gostavam menos hoje em dia porque se tornaram mainstream, mesmo assim, mantinham todos os MP3 em seus iTunes.
Era importante conhecer bandas que "não faziam sucesso" e um grande prazer dizer que conhecia antes de todo mundo.
Reformou seu guarda-roupas. Comprou sete camisetas da Camiseteria. Uma para cada dia da semana.
— Filho, por que sete? Você vai trabalhar só de segunda a sexta.
— Mãe, é porque em agências é comum trabalhar de fim de semana. É bom para a imagem e carreira. Tenho que estar preparado, mostrar disposição e proatividade para isso!
Até que chegou o grande dia. Estava com dúvidas sobre o horário de chegada. O entrevistador disse que o horário de chegada variava entre 9h e 9h30. Para não ter qualquer problema, prevaleceu a regra antiga de etiqueta corporativa: apareceu na agência logo no primeiro horário.
A menina do RH o levou até a Criação. Seu coordenador ainda não tinha chegado.
Todo o discurso estava ensaiado. Assim que sentasse em sua nova mesa, diria empolgado que estava ansioso para o Lollapalooza e perguntaria para o colega ao lado, para puxar assunto, "qual show você vai ver?".
Foi um dos primeiros a ligar o computador na Criação. Era um iMac. Estava impressionado e feliz de trabalhar com aquele enorme monitor prateado e fininho. Só não tirou uma foto para não parecer turista demais. Pensava: "fica calmo! Fica calmo!".
A enorme mesa com mais nove iMacs continuava vazia. Parecia uma merendeira de refeitório. Havia brinquedos do Mc' Donalds de várias gerações.
Olhou para o Billy, a Mandy, o Puro-Osso, a Turma do Bairro e os Minions. Imaginou quando ganharia seu primeiro prêmio. Lembrou dos relatos de festas de alguns de seus amigos que já trabalhavam na área. As putarias, o open bar e as baladas da moda fechadas só para a confraternização.
— Será que é igual ao Mad Men? — pensou.
Já vislumbrou seus Tweets e posts de Facebook dos momentos em que estaria trabalhando demais.
Na sexta à noite: "Amanhã estou aqui de novo! :( Mas bora lá porque é o que eu amo fazer! #vidadepublicitarionaoefacil".
Ou então: "Madrugada na agência... O bom é que a internet está rápida pra c@r@&%! #quemmandouescolherpublicidade".
Os posts tinham que dúbios: reclamar que estava trabalhando demais, mas ao mesmo tempo, mostrar a paixão exacerbada pela profissão.
Mensagens assim nas redes sociais eram necessárias porque mostram o quanto se está dedicado ao emprego. Isso é muito valorizado em São Paulo.
A piada/pergunta: "É meio período?", quando alguém vai embora antes de você, tem que estar engatilhada perto das 18h.
Ficou viajando assim até umas 10h15, quando chegou um cara com o cabelo preto até a cintura, barba cerrada, coturno, calça jeans e camiseta preta lisa.
— Opa! Beleza! Você é o novo aspira de redação? Meu nome é Diogo! — disse o cabeludo.
— E aí? Sou sim! Comecei hoje! Meu nome é Theodoro! O pessoal me chama de Theo!
— Theodoro? Ah, não! Aqui, a gente chama os estagiários de Gilmar. Você é o Gilmar III.
— Hahaha! Beleza!
Levou na boa. As outras pessoas começaram a completar a mesa. Alguns se apresentaram, outros não. Todos estavam meio sonolentos e a manhã seguiu meio silenciosa até a hora do almoço.
Nenhum job tinha aparecido para Gilmar III, que acessou o Blueprint, Ads of the world e the FWA para procurar referências, conforme seu professor indicou.
Postou no Facebook: "Primeiro dia em uma agência grande. #conquista #delorean #felizpracaraio". Recebeu seus likes e comentários de parabéns.
Já não tinha mais o que procurar na internet. Era necessário quebrar o gelo e puxar assunto.
Respirou fundo e perguntou para Diogo:
— E aí? Vai no Lollapalooza? Estou ansioso para ver o Arcade Fire!
— Rolla Pra Loser? Hahaha! Numa boa, cara! Eu detesto esse festival e todas as bandas que tocam lá.
E foi a primeira vez que o mundo de Theo caiu.
A segunda, foi quando precisou fazer o texto de e-mail marketing temático de Dia de Finados. Ia rolar um feirão de apartamentos perto da data.
— Preciso me preparar. Quero me enturmar logo, fazer contatos e aumentar meu networking. Já atualizei e tirei uma foto legal para colocar no Linkedin e fiz uma limpa dos meus posts do Facebook. Agora, preciso ver se minha pesquisa e treinamento deram certo! — estabeleceu como meta para si mesmo.
O treinamento em questão consistia em ler o livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas" e tentar parecer o cara mais descolado possível. Foi a característica que usou para definir seus futuros colegas publicitários.
Baixou a discografia completa do Muse, Strokes, Mumford and Sons e 30 Seconds to mars. Descobriu que The Killers e Foo Fighters eram clássicos. Lera que, quem gostava de rock, teria mais chances de prosperar no mundo das agências. Ao mesmo tempo, não podia ser qualquer banda. Tinham que ser aquelas que foram fabricadas para ser alternativas. Aquelas que seus colegas diriam que gostavam menos hoje em dia porque se tornaram mainstream, mesmo assim, mantinham todos os MP3 em seus iTunes.
Era importante conhecer bandas que "não faziam sucesso" e um grande prazer dizer que conhecia antes de todo mundo.
Reformou seu guarda-roupas. Comprou sete camisetas da Camiseteria. Uma para cada dia da semana.
— Filho, por que sete? Você vai trabalhar só de segunda a sexta.
— Mãe, é porque em agências é comum trabalhar de fim de semana. É bom para a imagem e carreira. Tenho que estar preparado, mostrar disposição e proatividade para isso!
Até que chegou o grande dia. Estava com dúvidas sobre o horário de chegada. O entrevistador disse que o horário de chegada variava entre 9h e 9h30. Para não ter qualquer problema, prevaleceu a regra antiga de etiqueta corporativa: apareceu na agência logo no primeiro horário.
A menina do RH o levou até a Criação. Seu coordenador ainda não tinha chegado.
Todo o discurso estava ensaiado. Assim que sentasse em sua nova mesa, diria empolgado que estava ansioso para o Lollapalooza e perguntaria para o colega ao lado, para puxar assunto, "qual show você vai ver?".
Foi um dos primeiros a ligar o computador na Criação. Era um iMac. Estava impressionado e feliz de trabalhar com aquele enorme monitor prateado e fininho. Só não tirou uma foto para não parecer turista demais. Pensava: "fica calmo! Fica calmo!".
A enorme mesa com mais nove iMacs continuava vazia. Parecia uma merendeira de refeitório. Havia brinquedos do Mc' Donalds de várias gerações.
Olhou para o Billy, a Mandy, o Puro-Osso, a Turma do Bairro e os Minions. Imaginou quando ganharia seu primeiro prêmio. Lembrou dos relatos de festas de alguns de seus amigos que já trabalhavam na área. As putarias, o open bar e as baladas da moda fechadas só para a confraternização.
— Será que é igual ao Mad Men? — pensou.
Já vislumbrou seus Tweets e posts de Facebook dos momentos em que estaria trabalhando demais.
Na sexta à noite: "Amanhã estou aqui de novo! :( Mas bora lá porque é o que eu amo fazer! #vidadepublicitarionaoefacil".
Ou então: "Madrugada na agência... O bom é que a internet está rápida pra c@r@&%! #quemmandouescolherpublicidade".
Os posts tinham que dúbios: reclamar que estava trabalhando demais, mas ao mesmo tempo, mostrar a paixão exacerbada pela profissão.
Mensagens assim nas redes sociais eram necessárias porque mostram o quanto se está dedicado ao emprego. Isso é muito valorizado em São Paulo.
A piada/pergunta: "É meio período?", quando alguém vai embora antes de você, tem que estar engatilhada perto das 18h.
Ficou viajando assim até umas 10h15, quando chegou um cara com o cabelo preto até a cintura, barba cerrada, coturno, calça jeans e camiseta preta lisa.
— Opa! Beleza! Você é o novo aspira de redação? Meu nome é Diogo! — disse o cabeludo.
— E aí? Sou sim! Comecei hoje! Meu nome é Theodoro! O pessoal me chama de Theo!
— Theodoro? Ah, não! Aqui, a gente chama os estagiários de Gilmar. Você é o Gilmar III.
— Hahaha! Beleza!
Levou na boa. As outras pessoas começaram a completar a mesa. Alguns se apresentaram, outros não. Todos estavam meio sonolentos e a manhã seguiu meio silenciosa até a hora do almoço.
Nenhum job tinha aparecido para Gilmar III, que acessou o Blueprint, Ads of the world e the FWA para procurar referências, conforme seu professor indicou.
Postou no Facebook: "Primeiro dia em uma agência grande. #conquista #delorean #felizpracaraio". Recebeu seus likes e comentários de parabéns.
Já não tinha mais o que procurar na internet. Era necessário quebrar o gelo e puxar assunto.
Respirou fundo e perguntou para Diogo:
— E aí? Vai no Lollapalooza? Estou ansioso para ver o Arcade Fire!
— Rolla Pra Loser? Hahaha! Numa boa, cara! Eu detesto esse festival e todas as bandas que tocam lá.
E foi a primeira vez que o mundo de Theo caiu.
A segunda, foi quando precisou fazer o texto de e-mail marketing temático de Dia de Finados. Ia rolar um feirão de apartamentos perto da data.
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