quinta-feira, 23 de maio de 2019

A/C Aisha

Talita Aisha Oura. 大浦タリータ愛写

Nem sei se, quando você tiver idade para ler e compreender este texto, o Blogspot ainda vai existir. De qualquer maneira, escrevo apenas para expressar o que estou vivendo agora.

Quando eu e a sua mãe fizemos o vídeo de 上を向いて歩こう, só sabíamos que o nosso bebê tinha 70% de chances de ser menina.



Quando o ultrassom deu certeza do sexo, seu nome japonês surgiu primeiro: 愛写(あいしゃ - Aisha).
Tiramos ele da música 愛車リマインド da banda japonesa Jill-Decoy Association. Trocamos os kanjis para dar outro significado e mantivemos a pronúncia. Até porque Aisha é o nome da filha do Stevie Wonder que ele canta em Isn't she lovely.

“Talita” veio depois. Um pouco por causa da Tatá Werneck, um pouco também porque gostamos do nome.

Um querido primo nosso disse uma vez que “nós só aprendemos a ser filhos, quando viramos pais.”.

Faz muito sentido. Passamos a entender que, com os erros e acertos, nossos pais deram o melhor para nos criar.

Você é nossa primeira filha. Então, estamos com alguns medos. Normal, né? Ainda mais que todos dizem "a culpa é sempre dos pais". O que ajuda é focar no presente e curtir cada momento do seu desenvolvimento.

Eu e sua mãe, logo no começo do namoro, combinamos que não poderíamos tomar decisões por medo e que “viver com medo é viver pela metade”. Não sabemos de quem é essa frase.

Por um bom período do nosso casamento, não queríamos ter filhos. Só que um dia, percebemos que não ter filhos era uma resolução criada pelo medo.

Medo de que nossas viagens não fossem mais como antes.

Medo de não poder mais sair, tocar, curtir a noite.

Medo de não poder mais tomar umas cervejas e jogar videogame junto de nossos amigos.

Medo de perder a vida que tínhamos.

Aos poucos, alguns de nossos amigos tornaram-se pais. Eu e sua mãe fazíamos parte de três casais da turma que sobraram com a dúvida da paternidade.

Podemos dizer que quatro fatores foram cruciais para chamarmos você a este mundo.


1 - Este diálogo com um dos casais que ainda não eram pais.

— Se parar e pensar, a decisão mais racional é não ter filhos. — disse ela.

— Na verdade, não. Se você for racional, você tem filhos. — respondeu ele.
Repetindo o que falei acima, concluímos que não ter filhos seria uma decisão tomada pelo medo e não pela razão.

Ah! Eles ficaram grávidos antes da gente! Seu amigo Lucas nasceu meses antes de você.


2 - Encontro Feminino da Mahikari.

Eu não fui a esse evento. Sua mãe pode explicar melhor a inspiração que rolou por lá.


3 - Sua prima Amélie.

Eu e sua mãe nunca vimos a paternidade como algo mágico, meloso, romântico.

Nunca nos imaginamos correndo na praia em câmera lenta com você, sorrindo e saltitando nas nuvens com um braço sujo de merda que vazou da sua fralda dizendo: “Ser pai (mãe) é o sonho da minha vida!”. Tudo isso com corações vermelhos brotando da pele e flutuando ao redor das nossas cabeças.

Quando sua prima nasceu, 3 anos antes de você, vimos que a criança vem para integrar um grupo.

O grupo se adapta ao bebê e o bebê se adapta ao grupo. É até bom para aprender que o mundo não gira ao redor do nosso umbigo.

Para nós, isso que corresponde a uma família. Ou, como somos fãs de cachorros, a uma matilha.


4 – O-Shogatsu

A família da sua mãe sempre foi grande. Leva um tempo para decorar todos os nomes, mas os encontros de Ano-Novo com todo mundo junto são sempre muito bons.

Sua avó materna é a caçula de 10 irmãos. A mamãe tem 40 primos de primeiro grau.

Sempre comentamos o quanto esses encontros são divertidos. Qualquer festa de aniversário vira um evento grande.

Só que, geração após geração, a quantidade de filhos diminui em cada núcleo familiar.

Hoje fala-se até que o conceito de primo será raro ou vai deixar de existir, porque a maioria dos casais tem apenas um filho.

— Ter família grande é gostoso, né?

— É!

— E aí, vocês vão ter filhos?

— Não!

Algo não bate nessa conta.

Pouco a pouco, nossa rotina mudou e não foi por sua causa. Paramos de tocar à noite, passamos a gravar nossas músicas em casa e espontaneamente tudo se preparou para a sua chegada.

Até o momento deste texto, trabalho em home-office. Tomara que isso seja realmente o futuro das relações de trabalho.

Toda essa introdução só para dizer o que me motivou a escrever esta “carta”. Talvez, um complemento ao nosso vídeo de 上を向いて歩こう.

Sabe a frase "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"? Estava pensando: ela não é imperativa, e sim um bom indicativo das relações humanas.

O que quero dizer é: se não somos capazes de ter amor próprio, não conseguiremos amar qualquer outra pessoa.

Novamente o Caminho do Meio: é possível ser generosa sem esquecer o próprio bem-estar. Pensar em si mesma sem ser egoísta.

Até as companhias aéreas sabem disso: “Em caso de descompressão, coloque a máscara primeiro em você, depois na pessoa ao seu lado!”.

Autoestima não é só cuidar da beleza.

Se tudo der certo, conquistarei a faixa preta em Aikido quando você tiver uns 4 meses de idade. Mas não quero ser aquele pai clichê que vai fazer cara de mau para receber seu namorado. Estarei sempre pronto para te proteger, é claro, mas na minha cabeça, você também pode se tornar faixa preta de alguma arte marcial e ser bem capaz de se defender sozinha. Ainda mais se tiver a força da sua mãe (depois eu conto a história de quando ela quebrou o meu nariz com uma cabeçada no meio de um abraço).

Mas é isso. Quero muito que você seja feliz. Preocupação é realmente “ocupar-se antes da hora”.

Vai-se o desabafo, volto a curtir o momento. Vou colocar uma música porque sei que você sempre chuta e se mexe quando eu e sua mãe cantamos.

Espero que sempre confie na gente.

Beijo.

Papai.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Two and a half social conventions

Lá se foram alguns anos de casado e tem uma coisa que eu ainda não entendo: algumas piadas e reclamações sobre a vida pós matrimônio.

Felizmente, encontrei amigos casados que também pensam como eu. Assim, não me sinto tão alien.

A conclusão mais plausível que cheguei foi a de que reclamar da vida de casado faz parte de uma convenção social. Algo para você parecer "normal" no seu círculo de amigos que se lamuriam dos mesmos motivos comuns tirados de uma rasa conversa de novela ou programa humorístico global.

"A diferença entre casamento e prisão é que na prisão se pode jogar futebol aos domingos."

"Faltando dois dias para o casamento, o noivo muito católico vai procurar o padre: 
 Padre, eu vim aqui propor um negócio. Eu lhe trouxe mil reais, mas em troca eu quero que o senhor corte algumas coisinhas daquele discurso de casamento: 'Amar, honrar, ser fiel...'. É só não falar essa parte! 
O padre aceita o dinheiro, não fala nada e o noivo fica todo satisfeito. 
Quando chega o dia do casamento, o padre olha bem para o noivo e diz: 
 Promete viver apenas para ela, obedecer a cada uma de suas ordens, levar café na cama todos os dias e jurar perante Deus que nunca terá olhos para nenhuma outra mulher? 
O noivo, completamente sem graça e sem saída, acaba concordando. Mais tarde, durante a festa, chama o padre num canto: 
 Poxa, eu pensei que a gente tinha feito um acordo! 
O padre lhe devolve os mil reais: 
 Sinto muito, meu filho. Mas ela triplicou a sua oferta!"

Acima, duas piadas que encontrei em uma pesquisa no Google, mas existe muita gente que realmente pensa como esses personagens. Aí vem a pergunta: se essas pessoas sentem tanta falta da vida de solteiro, por que continuam casadas?

Acho que não sinto falta da minha vida de solteiro porque continuo fazendo as mesmas coisas. Jogo videogame, tomo cervejas, assisto séries e futebol americano. Tudo em dupla.

Não sinto falta do "começo do namoro, quando há borboletas no estômago e o fogo da paixão blablablablabla..."



Parando para pensar, eu prefiro estar onde estou agora. No começo do namoro eu queria impressionar: matar as baratas, bancar o "alfa", vencer discussões...

Ficava tenso para que a pessoa não se decepcionasse comigo. Hoje, eu quero apenas cultivar e oferecer o meu melhor lado no relacionamento. Ao meu ver é completamente diferente. Quero ser sempre uma pessoa melhor do que eu era antes, aprender com minha parceira e ser feliz. Ser verdadeiro.

Um amigo me disse: "você gosta da sua vida de casado porque ainda não tem filhos. Antes, minha mulher perguntava 'o que você quer comer? Hoje, ela não pergunta nada!'.

Ué! Eu não casei com um mordomo.
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"Eu vos declaro marido e Alfred!".

Toda essa introdução falando da minha luta contra convenções sociais só para dizer que esta cruzada vai ter um novo desafio.

Os mesmos que sempre reclamam de seus casamento são os mesmos que reclamam da paternidade.

A nova fase vem cheia de novos clichês:

"Uma piscina gelada em que todos os seus amigos estão lá dentro te chamando:  Vem, pode pular que a água ta quentinha!"

Se ainda não ficou claro: sim, vou ser pai. Minha matilha vai aumentar.

Acho que só comecei a escrever este texto para me policiar e talvez assumir um compromisso mental comigo, minha família e o novo integrante.

Longe de mim subestimar os desafios e dificuldades desta nova fase, mas desejo que eu nunca utilize a desculpa "não posso porque agora sou pai" em qualquer situação.

Almejei tanto por disciplina e parece que agora vou realmente precisar dela. Para não me atrasar nos compromissos, viagens, encontros e claro, meus treinos.

Quero dar o meu máximo para que meu filho ou filha não se sinta um peso na minha vida.

Detesto a ideia de que um dia ele possa se sentir como no quadrinho abaixo:


- Meus sonhos foram despedaçados anos atrás.

- Há quantos anos?

- Quantos anos você tem?

- ...

Bom, é isso. Quero curtir cada etapa. Sabe aquela história que a viagem é mais inportante que o destino? Então...