terça-feira, 2 de abril de 2013

Bean Situation: sem freios.

Depois de se estabilizar no emprego, finalmente Alex conseguiu um apartamento para morar sozinho.

Fez todos os cálculos: aluguel, condomínio, conta de luz, gás e água. Com seu novo salário, daria para pagar tudo.

Estava de saco cheio de viver com sua mãe. Ultimamente, brigavam demais e esse é um típico caso em que a distância melhoraria a relação dos dois. Tudo seria uma maravilha: Alex culpava sua mãe por ser tão tímido.

Seus colegas de todos os lugares em que estudou e trabalhou o chamavam de Carpete. Por uma série de fatores.

Diziam que ele tinha sido criado pela avó a base de leite com pera e que jogava bolinhas de gude no carpete do apartamento. Sempre o classificavam como café com leite e, quando Alex ia a uma copa tomar um café expresso, perguntavam se a cafeína não era uma porta de entrada para drogas mais pesadas.

Mas a principal razão do apelido "Carpete" era a cor castanha clara de seu cabelo, além do corte curtinho, bem rente à cabeça.

As possibilidades de piadas e sarros eram quase infinitas.

Enfim chegou o dia e Alex Carpete se mudou para o novo apê. A decoração ficou do jeito que queria. Sofá, TV, Blu-ray player e sua coleção de DVD's do Cheers. Seu quarto era mais simples. Comprara um criado-mudo no Mercado Livre que ficava com a gaveta vazia. Em cima, deixava seus óculos e um livro.

Havia mais roupas penduradas em seu mancebo do que no guarda-roupas. Partia do princípio que calças jeans não sujavam em menos de três semanas.

Lavar louças era tranquilo e cozinhar era fácil. Muitas lasanhas e nuggets congelados para o jantar ao longo da semana. O almoço geralmente era nos restaurantes por quilo que ficavam perto de seu trabalho.

Das tarefas domésticas, a que mais odiava era lavar roupas, atividade que não fazia na casa de sua mãe. Por essa razão que desenvolveu a teoria das três semanas das calças jeans.

Passar camisas era tão horrível que passou a usar apenas camisetas polo. Tinha um shorts de pijamas para dormir que às vezes ficava o mês inteiro sem lavar. Blusas de frio? Ah! Essas nunca sujavam. Só precisava dar uma cheiradinha. Se estivesse com suor, pendurava no varal em qualquer oportunidade de sol e já estava tudo bem.

Alex vivia relaxado com todos esses fatos. Só que existia um fenômeno que lhe causava o pior dos pavores: freada na cueca.

Tomou o primeiro susto logo na estreia de sua área de serviço. Enquanto separava as roupas de baixo para lavar na máquina, se deparou com aquela cena. Uma faixa central, irregular e desbotada no meio do tecido branco.

— Ergh! Minha mãe lavava isso? — pensou com a cara toda contraída de nojo.

A partir daí, começou o que seria a primeira daquelas manias quase imutáveis de quem vive sozinho. Sempre preocupado com as freadas, Alex se policiava com qualquer ameaça de peidinho. Se a barriga fizesse qualquer barulho, já corria para o banheiro.

Agora, além de toda a vergonha que já sentia na maioria das situações sociais, não queria correr o risco de lavar uma freada novamente. Ficou neurótico.

Alex tinha vergonha até de cagar no banheiro da empresa. Entrava lá só em caso de emergência e apenas no horário de menor movimento. Se alguém entrava no toalete para escovar os dentes ou usar o mictório, Alex contraía até mesmo seus pés, para que não o identificassem em uma das cabines.

Queria ser o mais discreto possível. Odiava que quaisquer barulhos fossem amplificados pela concha acústica da privada.

Essa discrição causou-lhe um grande problema. Numa onda sustentável da empresa, colocaram um aviso na parte de dentro da porta do banheiro: "Ao sair, apague as luzes. A natureza agradece!".

Depois de comer um pacote inteiro de Doritos Sweet Chili na parte da tarde, Alex precisou ir ao banheiro. Era por volta das 17h30, um horário bem tranquilo. Pena que um cara do Departamento de Planejamento Financeiro foi escovar os dentes poucos minutos depois.

Como era esperado, Alex segurou seus ruídos.

Era realmente silencioso e seu colega não percebeu que havia gente na cabine. Saiu e apagou as luzes.

Segundos depois, apenas uma super audição poderia ouvir os sussurros desesperados do banheiro masculino:

— Ei... Alguém?

Tempos depois:

— Eeeei...

Mais tarde:

— Alô?

Num ciclo de vergonha, planos de fuga e mais vergonha, o tempo foi passando. Todos os colegas foram embora, os seguranças fecharam as portas da empresa e acionaram o alarme.

Alex passou a noite inteira sentado na privada. Cochilou algumas vezes. Pensou que tudo poderia ser resolvido se o colega tivesse percebido que ele estava lá. Culpou sua mãe mais uma vez por ser tão tímido. Resolveu ficar por lá mesmo pela vergonha que ia sentir se alguém soubesse dessa história.

No dia seguinte, esperou as primeiras luzes do dia, se limpou e fingiu que chegou mais cedo ao escritório.

Depois, fez cálculos no orçamento para utilizar uma lavanderia.

2 comentários:

Sunahara disse...

Muito bom!

Danilo Riedel disse...

Amigo Alex, compre cuecas pretas ;)